
Mil coisas me surpreenderam e me encantaram em Nice, uma cidade da Riviera Francesa com praias de pedra, orla cenográfica e muitas opções turísticas para quem gosta de história, cultura ou entretenimento. Mas entre todas elas, uma enorme estátua de Giuseppe Garibaldi na praça que leva o seu nome, no coração do centro histórico da cidade, foi a mais surpreendente.
“Hoje é dia 20 de setembro, uma data especial para os gaúchos. Neste dia, em 1835 se iniciava a Revolução Farroupilha, uma tentativa separatista da elite rio-grandense da época, que além de queixosa em relação aos impostos, propunha abolição da escravatura e a República. O curioso é que esta data também é muito importante na Itália, e uma figura é protagonista em ambos locais, Giuseppe Garibaldi.”
Garibaldi é personagem constante nos livros de história do Rio Grande do Sul, pois lutou ao lado de Bento Gonçalves na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 a 1845. A Revolução Farroupilha foi uma tentativa separatista da elite rio-grandense da época, que além de queixosa em relação aos impostos, propunha abolição da escravatura e a República.
Ainda que os farroupilhas tenham perdido a guerra, com um acordo selado em 1845, o movimento se tornou parte fundamental da cultura dos gaúchos, uma espécie de mito fundador. E isso se refletiu também na literatura, onde diversos romances como “O Tempo e o Vento”, de Erico Verissimo, “Os Varões Assinalados”, de Tabajara Ruas, “Garibaldi e Manuela”, de Josué Guimarães, e “A casa das sete mulheres”, de Leticia Wierzchowski.
Entre os protagonistas, Bento Gonçalves é visto como o líder, o político, mas é Garibaldi quem desponta como o personagem mais interessante: idealista, carismático, sedutor, misterioso, guerreiro. E mais do que isso, sempre se ouviu dizer que era o herói de dois mundos, pois depois do seu período na Revolução Farroupilha foi lutar pela unificação italiana. Mas eu não tinha noção da sua importância para a história da Itália até visitar este país.
LEIA TAMBÉM: Bambino a Roma, um passeio pela infância de Chico Buarque na capital italiana
Há destacadas estátuas em homenagem a ele em muitas cidades italianas, como Roma, Siena, Pisa, Monza, Verona e até em San Marino, pois Garibaldi foi fundamental para manter o micropaís independente – San Marino é a mais velha República do mundo ainda existente. Também Anita, sua companheira de batalhas cuja paixão começou no Sul, quando Garibaldi estava em Laguna durante a Revolução Farroupilha, é lembrada em monumentos, sendo a mais célebre a estátua equestre em Roma (no Gianicolo).
Mas o que a francesa Nice, referida no começo do texto, tem a ver com isso? Ocorre que Giusepe Garibaldi nasceu dia 4 de julho de 1807 em Nice, à época parte do Reino da Sardenha. Só no período da unificação italiana que a França anexou Nice, e em 1860 e 1871 a população da cidade revoltou-se contra o país, liderada por Giuseppe Garibaldi, pedindo a reunificação com o Reino da Itália, mas o novo governo de Paris reprimiu a revolta de modo muito violento.
Na cidade, a imponente estátua de Garibaldi está localizada na charmosa Place Garibaldi, no coração do centro histórico. A praça, aliás, teve vários nomes ao longo do tempo — como Place Napoléon, Place d’Armes, Piazza Vittorio — mas passou a se chamar Place Garibaldi em setembro de 1870, data da consolidação da Unificação Italiana.
A Unificação Italiana e o dia 20 de setembro
Roma tem muitos atrativos, muita história, com construções simbólicas do Período Romano, como o Coliseu e o Panteão, do período medieval, do Renascimento, sem falar no Vaticano. Dessa forma, a interessantíssima história da unificação italiana fica um tanto escondida, embora a enorme construção em homenagem a Vittorio Emanuele II, inaugurada em 1911, durante as celebrações dos 50 anos da unificação italiana, surpreenda a turistas desavisados como eu pela sua imponência e localização – o monumento é mais alto que o próprio Coliseu.
Mas como bom gaúcho o que mais me chamou a atenção foi uma placa em uma parte das muralhas Aurelianas, perto da Porta Pia, na Rua 20 de Setembro (coincidentemente, a data dos gaúchos, início da Revolução Farroupilha em 1835 e até hoje não apenas feriado como data de festividades com desfiles e eventos culturais por todo o Estado). A placa comemora a brecha aberta nas muralhas no dia 20 de setembro de 1870 pelas tropas italianas — fato que marcou a tomada de Roma pelo Reino da Itália.
Diferentemente do que eu imaginava, Roma foi o último território conquistado pelas tropas lideradas por Vittorio Emanuele e Garibaldi. Até ali o local era conhecido como Estados Papais, e chegou a repelir, com a ajuda de Napoleão III da França, uma tentativa de conquistas dos italianos. Até que no fatídico 20 de setembro de 1870 as tropas de Emanuele e Garibaldi invadiram Roma e a transformaram na Capital do reino que se formava.
Quer conhecer mais sobre minhas viagens e outros projetos? Me siga no Instagram @marcelospalding
Siga o @portaluaiturismo no Instagram e no TikTok @uai.turismo