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Bambino a Roma, um passeio pela infância de Chico Buarque na capital italiana

Sétimo romance de Chico mescla ficção e memória, não se afirmando como um nem como outro, embora nos proporcione um passeio pela Roma dos anos 1950.

Bambino a Roma, um passeio pela infância de Chico Buarque na capital italiana -  (crédito: Uai Turismo)
Bambino a Roma, um passeio pela infância de Chico Buarque na capital italiana - (crédito: Uai Turismo)
Bambino a Roma, um passeio pela infância de Chico Buarque na capital italiana (Foto: Marcelo Spalding)

Hoje há poucas unanimidades, mas me parece que Chico Buarque (ainda) é uma delas, pelo menos quando se pensa em suas músicas. E Roma sem dúvidas segue sendo uma unanimidade para quem gosta de viajar e conheceu a capital italiana – caso não conheça, sugiro colocar no topo da sua lista de prioridades, com uma passagem por Veneza. Pois partindo dessa premissa, imaginei que um livro de Chico Buarque que se passa em Roma só poderia ser maravilhoso, certo? Bem…

Bambino a Roma (Companhia das Letras, 2024), o mais recente romance de Chico Buarque, se apresenta ao leitor como um “leque de impressões de uma infância vivida e imaginada”, tendo nas memórias de Chico a matéria-prima para sua ficção. Mas apesar dessa chamada da sinopse, a capa do livro traz logo abaixo do título a expressão “Ficção”, como para não deixar dúvidas de que os episódios ali narrados não aconteceram de fato na vida de Chico (fórmula já vista em O Irmão Alemão, livro anterior do autor).

Capa do mais recente romance de Chico Buarque.

É aí que reside, para mim, a maior fraqueza do livro: ele não tem um enredo envolvente ou profundo suficiente para se justificar apenas como ficção. E ao não se assumir como memórias, ficamos em dúvida se os episódios mais interessantes são reais – o que os tornariam dignos de figurar no livro e nos fazer tomar tempo para lê-los – ou não. Fica no meio do caminho, como se fosse um livro de memórias envergonhado – ou uma ficção presa a fatos não tão dignos de um romance.

Roma não é protagonista na narrativa

Para quem visitou Roma, ler sobre suas caminhadas ou pedaladas pelas ruelas da cidade, as menções à Fontana Di Trevi, ao Coliseu, ao Vaticano, à Trastevere, o próprio cotidiano de uma criança brasileira tentando se adaptar à vida europeia é uma delícia. Mas o cenário não é protagonista na narrativa, não é explorado a ponto de justificar o livro ou fazer com que um viajante tenha de ler.

Foto: Marcelo Spalding

Talvez até mais interessante seja a viagem no tempo. O livro se passa entre 1953 e 1954, período no qual o pai de Chico morou na Itália, sem contar as dezenas de menções a hábitos e tecnologias que hoje praticamente não existem mais, do jogo de bola na calçada aos mapas em papel. Além disso, Roma em particular e a Europa em geral ainda sofriam as consequências da Segunda Guerra, então parece que a pobreza ou mesmo o perigo eram muito maiores.

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A Roma de hoje é próspera, muito movimentada, repleta de turistas, carros modernos, prédios bem conservados, ônibus elétricos, lojas de marca, poucos pedintes ou achacadores pelas ruas e uma boa sensação de segurança, mesmo à noite – pelo menos na área dentro das muralhas aurelianas.

Voltando ao livro, embora não tenha funcionado para mim enquanto romance ou mesmo como livro de memórias – Verdade Tropical, de Caetano Veloso, por exemplo, é mil vezes melhor nesse aspecto –, há cenas muito bonitas e que talvez eu nunca mais esqueça, como a da descoberta de uma edição em italiano do livro do seu pai. Ou a dança do menino com a mãe de seu coleguinha de escola que, mal sabia ele, era uma diva do cinema italiano. Este trecho, aliás, gostaria muito de saber se é real ou ficção.

Vale dizer que não é a primeira incursão ficcional de Chico por paisagens europeias. Budapeste, o terceiro romance do autor, publicado em 2003, trata da vida do ghost-writer carioca José Costa, que vai buscar refúgio em Budapeste e no idioma húngaro para seus dilemas existencialistas. Mas assim como em Bambino a Roma, a cidade é descrita por uma lente bastante simbólica, ficando sempre como plano de fundo da subjetividade do autor.

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Marcelo Spalding - Uai Turismo
postado em 01/08/2025 06:11
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