
A culinária mineira é o cartão postal da gastronomia brasileira – Já falei isso aqui – Mais uma vez as histórias e memórias da receita de um simples pão de queijo vão ao encontro de outras culturas. Desta vez, a chef Manu Zanetti trouxe suas primeiras receitas enquanto cozinheira para uma das maiores redes de restaurantes do mundo, presente em 68 países, a Hard Rock Café. A unidade de Curitiba (são 5 no Brasil) a partir deste final de semana terá o “waffle de pão de queijo” com mel e bacon como opção do café da manhã.
Nascida em Belo Horizonte, Manu escolheu Curitiba para expandir seus conhecimentos culinários ainda em 2011. Sua habilidade gastronômica na rede americana rendeu o cargo de “trainer” (treinadora) de outras unidades da rede no Brasil. Passou por Gramado, Florianópolis, Porto Alegre, Ribeirão Preto e também foi treinar equipes da cozinha da unidade de Caracas, na Venezuela.
Americana, mas regional
Ainda que receitas semelhantes possam ser vistas em muitos outros restaurantes, o fato é que a combinação cultural traz para o menu um conceito pensado para unir as culinárias norte-americana e brasileira. O processo para introduzir o pão de queijo no cardápio da rede americana em Curitiba teve uma boa caminhada: confecção de produto, aprovação da receita, da ficha técnica, apresentação e defesa dos pratos na central que fica no Rio de Janeiro, para enfim o mineiríssimo pão de queijo fazer parte do menu do café da manhã servido aos finais de semana.
No lançamento do festival de cafés da manhã (Breakfast Weekend) que acontece na cidade neste mês, a receita uniu duas paixões dos dois países. A história do waffle na culinária americana remonta ao século XVII, quando os colonizadores holandeses trouxeram a receita para a América. E o formato em colmeia faz todo sentido, uma vez que em Holandês Wafel (com um “f”) significa “favo de mel”. O prato evoluiu com a introdução de máquinas elétricas e a criação de receitas instantâneas.
A criatividade popular dos Imigrantes
A receita, que já foi em sua origem uma hóstia prensada, cruzou o Atlântico com os colonos europeus e se popularizou nos EUA, inclusive com o Dia Internacional do Waffle (25 de março). O waffle e o pão de queijo, nasceram em contextos de aproveitamento de ingredientes simples (farinhas, leite, queijo ou derivados), reforçando a criatividade culinária popular.
Ao unir dois ícones de tradições distintas, a receita da chef Manu reafirma como a cozinha contemporânea valoriza a criatividade, o respeito às raízes e a capacidade infinita da gastronomia de se reinventar. É uma conquista que amplia horizontes e se destaca na cena gastronômica atual, provando que inovar é, muitas vezes, redescobrir o que já é amado sob uma nova forma de surpreender.
A culinária de Imigração
Os imigrantes que levaram as receitas da Europa para a América do Norte, que a transformaram e reinventaram com criatividade, que a trouxeram para o Brasil, e permitiram essa mistura de culturas e de sabores, mais uma vez nos mostram que a cozinha é um reflexo vivo das transformações sociais, culturais, tecnológicas e afetivas da humanidade. O papo de hoje é uma reverência a um colono belga ou holandês na América, a uma chef mineira em Curitiba. Bravo Manu pela combinação cultural simples e perfeita! Ah, o que seria da gastronomia se não fôssemos nós, os imigrantes! Pense nisso!
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia. Apresentador de tv em Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. Press: contato@paespelomundo.com.br
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