As águas marinhas de várias partes do mundo estão cheias de um tipo de polímero, nome técnico dos plásticos, que até então era quase impossível de ser reciclado. Bastante durável e firme, o Nylon 66 é aplicado em vários objetos que exigem resistência, como peças de carros e redes de pesca de grande porte. Exatamente por ser tão duradouro, quando esse material vira lixo a reciclagem dele é complexa, e muitos resíduos vão parar em locais inadequados e não são reaproveitados.
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Agora, um estudo do Instituto Indiano de Ciências, o IISc, na sigla em inglês, desenvolveu uma técnica que consegue reciclar esse plástico de maneira simples e fazer com que ele possa ser reutilizado pela indústria na produção de novos itens resistentes, como bancos de praça e ladrilhos para pavimentação de ruas. O mecanismo promete devolver o Nylon 66, também chamado de PA-66 ou de poliamida 66, à economia circular e ainda diminuir os impactos dele no meio ambiente.
Reciclagem química
O processo elaborado pelo IISc, e publicado em setembro na revista científica Chemical Engineering Journal, se baseia no uso de uma substância específica, a melamina. Ela é um reticulante químico, ou seja, um tipo de material que tem o poder de "juntar pedaços" de plástico, criando partes maiores e mais firmes.
Inicialmente, o Nylon 66 que sobra das redes e de outros objetos é derretido e misturado com uma substância química que serve para acelerar reações, chamada de catalisadora. Nessa fase entra a melamina: ela é adicionada à poliamida 66 fundida e faz com que as várias partes separadas se juntem, formando uma estrutura tridimensional e unificada.
Ou seja, o reticulante cria um novo objeto plástico, que, depois de ser reprocessado, volta a ter propriedades de resistência e pode ser reaplicado em novos produtos. O mestre em química inorgânica pela Universidade de Brasília (UnB) Elizeu José explica ao Correio que a técnica do estudo se baseia na forma como os materiais desse tipo se organizam. "Isso ocorre porque os polímeros têm estruturas enormes, e nada mais são do que a mesma molécula repetida várias vezes, sintetizada num conjunto único. Por isso que o material pode ser reconstruído, no caso."
O cientista indiano Vimal Kumar, um dos autores do estudo, disse em comunicado que todo esse processo de junção das pequenas partes de Nylon 66 é bastante rápido quando feito em máquinas industriais. "O método foi desenvolvido para processos de alto rendimento e os tempos de reação foram inferiores a dois minutos", conta o pesquisador.
Por isso, os cientistas consideram que essa técnica de reciclagem é, sim, viável para aplicação comercial, já que acontece em grande velocidade. Além disso, o estudo mostrou que a poliamida 66 resistiu a, no mínimo, três ciclos recicladores sem perder sua rigidez e qualidade, outro fator que pode atrair o interesse das indústrias da área, pois o custo-benefício da reciclagem do plástico foi considerado bom pelo IISc.
O PA-66 pode ser aproveitado na confecção de produtos diversos. Os pesquisadores da Índia acreditam que ele também possa ser usado para fabricar objetos domésticos, como cadeiras plásticas, a partir de impressoras 3D capazes de trabalhar com nylon. (Álvaro Augusto)
Saiba Mais
Plásticos reprocessados
- No mundo todo, são produzidas cerca de 430 milhões de toneladas de plástico por ano, segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas.
- No Brasil, apenas 8,3% do total de resíduos sólidos produzidos é separado e enviado para reciclagem. Especialistas estimam que a quantidade reprocessada poderia ser de, no mínimo, 33% do montante total de lixo seco brasileiro.
- O país da COP30 ainda não recicla nem 26% de todo o plástico que consome; desse percentual que volta à economia circular, quase 90% vem de polímeros de embalagens cotidianas, que são mais simples, o que retrata a dificuldade do mercado em tratar resíduos complexos, como o Nylon 66.Fonte: Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente, Associação Brasileira da Indústria do Plástico.
Revista do Correio
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