
Especial para o Correio — Cláudio Ferreira
Bastou uma ida prosaica a pé à comercial da quadra nesta semana para constatar o que o noticiário já traz há algum tempo: a cidade está na escuridão. O caminho entre o bloco e as lojas me pareceu mais longo e perigoso do que de costume. Voltei pra casa quase às 10h da noite com a sensação de que era de madrugada.
Infelizmente, não é uma sensação isolada. Como motorista, também tenho tido experiências malsucedidas nos meus caminhos. O mais comum atualmente é encontrar postes apagados em série, a beira da pista transformada em breu e uma dificuldade grande de transpor rotas que já faço há muito tempo.
Quando estou no volante, meu maior medo é encontrar um ciclista à noite, de roupa escura e com a bicicleta também apagada. Ou um pedestre que atravesse a rua de supetão justamente no trecho mais mal iluminado da via.
Já sei que vão dizer que é uma reclamação de quem só circula no Plano Piloto — e que, em outros cantos do quadradinho, a falta de iluminação pública é a regra e não a exceção. Pode ser. Mas meu raciocínio é ao contrário: se no centro da capital, por onde passa quem poderia trazer as soluções para o problema, a deficiência de luz é tão grande, que dirá nos locais mais distantes, onde quem tem poder só passa em dia de inauguração.
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É um problema de infraestrutura, de segurança pública e de dignidade. O direito a enxergar direito o caminho, a estar em uma parada de ônibus sem ter outra preocupação que não seja a chegada do ônibus para casa, a fazer um percurso a pé tomando os cuidados necessários, mas em um ambiente razoavelmente iluminado...
Os telejornais locais insistem em mostrar os roubos dos cabos de cobre. Em uma cidade fortemente vigiada por câmeras de segurança, os flagrantes são constantes. A energia é suprimida em nome da possibilidade de vender aquele cabo em um mercado paralelo, que, apesar de amplamente conhecido, ninguém consegue desmantelar.
Outra vez um raciocínio que pode parecer simplista: se não houver quem compre, rapidamente, quem vende vai mudar de ramo. Na dúvida, que tal embargar o comércio onde a possibilidade dessa negociação ilícita seja maior? Sem mercado, mesmo que seja por um período determinado, essa troca fracassa.
Até o acesso noturno aos nossos monumentos, muitas vezes, estão apagados. Costumo passar pela Esplanada dos Ministérios à noite — é um passeio assustador. O gramado central vira uma mancha escura, com as árvores se misturando à iluminação pública. Mesmo do lado dos prédios dos ministérios, a iluminação é fraca e os estacionamentos, por exemplo, ficam isoladamente escuros.
Numa cidade de vias rápidas, a escuridão aumenta a possibilidade de acidentes de trânsito. Colisões e atropelamentos viram probabilidades e, a quase 100 quilômetros por hora, não há muito oque fazer. Como temos muitos trechos do Plano Piloto em obras, o perigo é maior ainda.
Rogo por um pouco de luz. Não precisa muito, não estou pedindo holofotes potentes ou lâmpadas escandalosas. É só o necessário para que nossa rotina volte a ter a qualidade que já conquistamos em muitos lugares do DF. E que todo o Quadradinho alcance essa mesma conquista.