
Com a queda dos termômetros, montar um visual estiloso e funcional pode se tornar um desafio. Diante da "gangorra" climática — frio de manhã, calor à tarde, vento à noite —, quem passa o dia fora de casa precisa estar preparado para diferentes temperaturas. É nesse cenário que o look cebola ganha destaque, uma tendência que vai muito além do nome curioso.
Inspirado na sobreposição de camadas, assim como as de uma cebola, esse estilo é a solução perfeita para quem busca conforto térmico sem abrir mão da personalidade. O look é construído camada por camada, permitindo ajustes ao longo do dia conforme a temperatura e o ambiente. Embora tenha nascido como estratégia para o frio, pode ser adaptado para todas as estações. No verão, por exemplo, basta escolher tecidos leves e respiráveis, explorando o contraste de texturas e cortes para compor um visual estiloso sem sufocar.
A ideia pode até dar a impressão de que traz informação demais ou um look pesado, mas o stylist Fernando Lackman ensina que, para garantir conforto sem sacrificar a estética, o segredo está na escolha dos tecidos e no caimento das peças. "Comece com uma base confortável, uma segunda pele de algodão ou malha modal, por exemplo, e adicione camadas com tecidos leves e maleáveis. Evitar peças rígidas é essencial para que o look acompanhe o movimento do corpo e não incomode ao longo do dia", explica.
Fernando diz que existe uma lógica para sobrepor peças de maneira eficaz: "Inicie com a camada mais funcional e próxima da pele, como uma camiseta ajustada ou uma blusa térmica. A seguir, entram as camadas intermediárias — camisas, tricôs ou suéteres. Por fim, a camada externa: blazer, jaqueta, trench coat ou sobretudo. O segredo é equilibrar conforto, mobilidade e proporções", ensina.
Mábel De Bonis, consultora de moda e CEO do Fashion Campus, complementa: "A jaqueta jeans ou de sarja é a terceira peça mais democrática de todas, compondo looks de inverno e de verão. O importante é lembrar que algumas peças serão retiradas ao longo do dia, mas o visual precisa continuar interessante".
A camisa é uma das peças-chave para esse equilíbrio. Mábel aponta que ela é extremamente versátil: "No inverno, vai por baixo de malhas e jaquetas; no verão, é só abrir os botões para dar um toque a mais na clássica dupla short e camiseta."
Tecidos e texturas
Para que a sobreposição seja harmoniosa, é certo apostar no contraste de texturas, como algodão com lã ou couro com seda, e na variação de comprimentos, mas mantendo tudo dentro de uma paleta de cores coerente. O excesso de informação pode comprometer o visual e, nesse caso, o menos é mais.
Tecidos com boa respirabilidade são os melhores aliados da tendência. Malhas finas, linho, viscose, lã merino e algodão leve são ótimos para camadas. Já materiais muito volumosos devem ser usados com critério, para não comprometer a silhueta. Equilibrar proporções é fundamental: se o casaco é volumoso, o ideal é que as peças por baixo sejam mais ajustadas. Tanto Fernando quanto Mábel concordam que é necessário cautela para evitar exageros ou desproporções visuais. "O look cebola é um exercício de harmonia criativa", afirma Mábel.
Estilos diferentes
O look cebola não é exclusividade de um único estilo. É possível combinar peças dentro da sua preferência e criar visual e conforto. No streetwear, por exemplo, ele aparece em sobreposições ousadas com moletons e parkas. No minimalismo, traduz-se em cortes retos e tons neutros. Já no clássico, privilegia alfaiataria leve e tecidos nobres. Mais do que um estilo em si, o layering é uma linguagem visual complementar, capaz de ser moldada conforme a personalidade de quem veste.
Essa técnica também funciona em ambientes formais, apostando em tecidos estruturados, cores sóbrias e cortes elegantes. "Uma camisa, um colete ou um suéter fino e um blazer de alfaiataria compõem um visual sofisticado e preparado para encarar todas as mudanças de temperatura do dia, sem precisar se preocupar com o que é adequado para o trabalho", ensina Lackman.
Entre os deslizes mais frequentes para quem está aderindo ao estilo pela primeira vez, ele aponta o excesso de informação, muitas cores, texturas e volumes brigando entre si e falta de funcionalidade. "O ideal é que cada camada possa ser removida ou ajustada com facilidade. Planejamento e praticidade são as chaves para um look cebola bem-sucedido", detalha.
E engana-se quem pensa que o look cebola é tendência passageira. "Na verdade, ele não é uma trend rápida", diz Mábel. "Já está incorporado ao guarda-roupa brasileiro. Em ambientes corporativos, por exemplo, é comum o uso de camisa, jaqueta e cachecol." O Brasil tem uma variedade climática intensa, e vestir-se em camadas se torna não só uma escolha estética, mas uma necessidade prática.
Se você quer experimentar o estilo, mas não sabe quais peças são necessárias, comece com uma segunda pele de malha, uma camisa branca bem cortada, um colete de alfaiataria, um blazer leve, uma jaqueta jeans e um trench coat clássico. Essas peças oferecem versatilidade e permitem uma infinidade de combinações.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte