
No passado, fazer atividade física era um hábito quase que individual, restrito somente àqueles que treinavam com você. Entretanto, com o advento na internet, muita coisa mudou. Hoje, é fácil saber quem malhou ou não, basta ligar o celular e verificar o famoso 'tá pago' — gíria que acompanha os malhadores de plantão. Para os que ainda não sabem, há aplicativos específicos que criam comunidades esportivas e incentivam exercícios diários. Mas é necessário ressaltar: além de se motivarem, fazem competições saudáveis uns com os outros.
Tantas redes sociais e conteúdos fitness espalhados por toda a parte fazem com que outras pessoas também entrem nesse universo. De acordo com o professor de educação física e personal trainer Emanuel Victor, plataformas que oferecem treinos personalizados, comunidades de apoio e acompanhamento de desempenho são ferramentas acessíveis e muito utilizadas por inúmeros indivíduos.
Tais aplicativos oferecem opções de treino que se encaixam na rotina de cada pessoa, respeitando seu tempo e espaço. "Além disso, trazem atividades cada vez mais personalizadas e específicas. Eles também ajudam a manter o ritmo: enviam lembretes, motivam, mostram o progresso. Tudo isso contribui para transformar o exercício em um hábito, e não apenas em uma obrigação", destaca.
Contudo, a interação e a conectividade entre os usuários é o que faz desse espaço digital um encanto. Quem é do meio sabe que postar o treino é quase que um ritual nesse ecossistema fitness. "Isso gerou até frases como: 'se não postar, não cresce!'. Claro que isso é mais uma brincadeira, mas o ato de compartilhar influencia, sim, quem o está assistindo. Muitas vezes, a pessoa que vê a postagem se imagina também realizando aquela atividade, e isso pode ser o primeiro passo para ela sair do sedentarismo", ressalta Emanuel.
Segundo o profissional, ver alguém comum, de verdade, exercitando-se diariamente aproxima o exercício da vida real — e aí o tal "mundo fitness" deixa de parecer distante e exclusivo. Mas, ao contrário do que alguns pensam, esse contato não está resumido, somente, aos desconhecidos da internet. Aplicativos, como o popular Gymrats, unem amigos e criam uma competição saudável — ou nem tanto — em busca de um estilo de vida mais positivo e regado de esportes.
"Ratos" de academia
Uma dessas tantas usuárias do Gymrats é Maria Vitória Soares, 21 anos, que entrou no aplicativo em busca de uma frequência maior na academia. Para contribuir com essa necessidade, ela e os amigos de trabalho fizeram um desafio entre eles como forma de incentivo. "E, para ns estimular ainda mais, fizemos uma aposta valendo dinheiro. Assim, ficou mais fácil para mim", brinca a estudante de software.
O Gymrats, para aqueles que não sabem, funciona à base de check-in diários, em que os desafiantes postam os próprios treinos, detalhando os exercícios feitos e o horário em que foram realizados. Para Maria, a graça está justamente nessa brincadeira. Ao se notar liderando a competição, sente-se mais instigado e motivado a continuar treinando, sobretudo para não perder a posição do ranking.
"Ele é muito interessante e competitivo, chega a ser bizarro o quanto isso mexe com a cabeça de uma pessoa competitiva, pois você, mesmo cansado de uma rotina maluca, vai ter vontade de ir à academia. No meu caso, evito ao máximo faltar para não perder nenhum dia", destaca a jovem. Por fim, para além da competição, ela acredita que essas plataformas nasceram com um propósito essencial para que todos criem hábitos saudáveis. E, mais do que isso, que os amigos se divirtam entre si.
Desafio coletivo
O maior obstáculo de quem começa a treinar não é o treino em si, é se manter firme nos dias difíceis. Sendo assim, de acordo com Tauan Gomes, personal trainer e educador físico, o desafio do treinador é tornar esse ambiente acolhedor, mesmo com as competições que existem entre os usuários. "O app acende a faísca, apresenta uma direção de início, mostra como começar e tira o 'medo do primeiro dia', mostrando que o indivíduo não está sozinho", destaca o especialista.
Dessa forma, as comunidades digitais reúnem quem está no mesmo nível e na mesma chama de interesse. "Desafios em grupo viram compromissos coletivos e incentivam a não faltar", complementa Tauan. Pois é nessa manada rumo ao compromisso saudável consigo mesmo que muitos decidem postar seus relatos e depoimentos fitness na internet. Assim, esses gatilhos de identificação servem como base de motivação para que outros decidam se aproximar do nicho esportivo.
"Ao enxergarem pessoas comuns alcançando resultados, os leitores ganham confiança para dar o primeiro passo e inserir o exercício na rotina. É assim que muita gente dá o primeiro passo: vendo que é possível, que tem gente comum conseguindo o que ela está buscando, que existe um caminho acessível", descreve.
O sucesso das corridas
E as corridas de rua são o sucesso do momento. Desde o ano passado, o hype em cima dessa atividade propicia, cada vez mais, a entrada de pessoas dentro desse ecossistema. Em 2024, Ana Luiza Oliveira, 23, decidiu fazer parte desse universo. A verdade é que, segundo ela, quis acompanhar os amigos e desconhecidos que já eram amantes do aplicativo Strava, famoso entre os corredores, já que demarca as quilometragens realizadas e publica na plataforma para incentivar outras pessoas.
"Antes, usava outro aplicativo, só que não conseguia ver as corridas dos meus amigos. Assim, migrei para o Strava com o intuito de acompanhá-los. Ele me ajuda a cumprir a rotina de treinos porque manda algumas notificações durante a semana", ressalta Ana Luiza. A ferramenta, ainda, mostra a evolução da jovem ao longo das semanas, bem como demarca o percurso feito por ela, incluindo sua velocidade máxima no trajeto.
O maior incentivador do Strava, para a estudante de medicina, é o fator competitivo e a brincadeira com os amigos. Isso, de alguma forma, faz com que Ana Luiza tente ser melhor e procure estar em constante desenvolvimento com suas próprias metas pessoais. "Acredito que ajuda bastante nos treinos. Se você vê que outras pessoas estão lá, fazendo os mesmos percursos, correndo na mesma velocidade, tira um pouco do estigma que existe em ser muito bom em tudo que faz. Tem pessoas ali que estão no seu nível. Acho bem bacana", finaliza.