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Um estilo que abraça! Os encantos da decoração de vó

Recheada de lembranças e sentimentos, a decoração de vó é muito mais do que um culto ao passado. É um estilo que nunca cai em desuso e que hoje tem um novo significado

A casa da avó costuma ser um lugar que transmite acolhimento e proteção. Isso ativa áreas do cérebro ligadas à segurança e ao relaxamento -  (crédito: Mid Journey Interior/Reprodução)
A casa da avó costuma ser um lugar que transmite acolhimento e proteção. Isso ativa áreas do cérebro ligadas à segurança e ao relaxamento - (crédito: Mid Journey Interior/Reprodução)

A toalhinha de renda sobre os móveis e o porta-retratos com lembranças do passado. A almofada com as linhas de um crochê único, que somente uma pessoa com tanto afeto poderia bordar. Fora o cheirinho de bolo no forno, que se unirá à xícara de café que atravessa gerações. Tem estilo que, vira e mexe, sempre volta porque é figurinha carimbada. Mas tem um que nunca sai de moda: a decoração de vó.

Esse lugar bem específico, carregado de memórias e sentimentos, tem por característica elementos que fazem parte da vida de qualquer pessoa. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, não são componentes jogados aos cômodos. Eles estão lá, compondo um cenário pensado e idealizado. De acordo com a arquiteta Rosane Martinez, não dá para falar sobre casa de vó sem entrar na área da neuroarquitetura. 

Sendo o campo que estuda como os espaços afetam as emoções, os comportamentos e até a saúde mental, ela mostra que o ambiente em que indivíduos estão inseridos tem o poder direto sobre seu bem-estar: isso desde a escolha das cores até a disposição dos móveis e os estímulos sensoriais, como cheiros, sons, texturas e iluminação. E onde entra a casa da vó nisso? Em praticamente tudo.

"Mais do que um conjunto de objetos e móveis, essa decoração é um convite ao aconchego e à saudade boa de tempos que moram no coração. A poltrona de leitura, muitas vezes herdada, e a cortina de tecido leve que balança com o vento da tarde. Vasos com flores (reais ou artificiais), louças floridas e o famoso tapete felpudo que aquece os pés e a alma. Tudo tem história, tudo tem um porquê", afirma a especialista.

De acordo com Rosane, a casa da avó costuma ser um lugar que transmite acolhimento e proteção. Isso ativa áreas do cérebro ligadas à segurança e ao relaxamento — reduzindo o estresse e aumentando a sensação de bem-estar. Segundo a neuroarquitetura, ambientes que fazem isso ajudam a regular emoções e criam vínculos afetivos duradouros.

"Na casa da avó, há texturas suaves, cheiros familiares, cores quentes e sons calmos — tudo isso é interpretado pelo cérebro como estímulo positivo. São gatilhos sensoriais que despertam memórias afetivas, acalmam o sistema nervoso e proporcionam conforto. Esses elementos ativam no cérebro o sistema de recompensa emocional. Sentimos que pertencemos a uma história maior, o que reforça nossa identidade e autoestima", completa Rosane.

Memórias espalhadas

A avó do arquiteto Diego Aquino, por exemplo, é pioneira de Brasília e completou, recentemente, um século de vida. Diante de uma história tão robusta, ela desenvolveu um senso estético único, que vai muito além do estilo: tem a ver com a memória. "A casa de vó é sempre feita de lembranças — e poucas coisas são tão simbólicas quanto fotografias impressas, quadros grandes e móveis clássicos. Esses elementos não são apenas decorativos, mas afetivos", acrescenta.

Para o especialista, essa decoração carrega marcas de um tempo em que o convívio era mais presencial, mais direto. Elas entregam um registro físico e emocional de uma vida sem internet, com almoço de domingo cheio, sofá disputado e memórias que marcaram gerações. "Por isso, esse tipo de decoração emociona mesmo quem nunca viveu aquilo", completa Diego. Dessa forma, torna-se um estilo que nunca cai em desuso. E, apesar de muitos acreditarem que pode ser um formato meio brega ou datado, o arquiteto acredita que o segredo de tudo está na boa intenção.

"Quando um objeto carrega uma história real, ele deixa de ser 'brega' e passa a ser significativo. Uma poltrona de época, uma cristaleira antiga, um aparador — todos esses itens podem ser reinterpretados dentro de uma proposta contemporânea. O essencial é respeitar a peça, integrando-a ao espaço com curadoria, não com exagero", ressalta. Assim, fica fácil idealizar um cenário em que esse formato pode se encaixar bem.

Hoje, a decoração de vó vem ressignificada. O que antes era visto como antigo, agora é encarado como vintage, pois há uma valorização crescente do design de época. Móveis de grandes designers do século passado, que muitos avós tinham em casa sem saber, agora são vendidos a preços altíssimos em galerias. "Há um retorno ao que é sólido, artesanal e cheio de identidade", finaliza.

Entrando no estilo 

Para entrar no universo da decoração de vó, a arquiteta Rosane Martinez recomenda que é importante começar por peças que tenham valor sentimental e histórico. "Visite brechós e antiquários, converse com familiares para resgatar objetos antigos e aposte no artesanato. Personalize o ambiente com fotos de família, quadros e lembranças. Além disso, não tenha medo de misturar o antigo com o novo, criando um espaço único e cheio de significado", descreve. Abaixo, algumas dicas de como entrar nesse universo.

Comece pelas peças de afeto: heranças de família, objetos que contam histórias, artesanatos.

Aposte em tecidos suaves: rendas, florais delicados, bordados e crochês.

Use móveis com alma: madeira, peças antigas restauradas, armários com história.

Crie cantinhos afetivos: um espaço para o chá da tarde, uma prateleira de livros amados, um altar de fotos.

Misture com leveza: um tapete de vó com um sofá moderno pode ficar incrível!

Fonte: Por Rosane Martinez arquiteta diretora do EXXP Studio e influencer no blog Passa lá em Casa

  • A decoração de vó é um estilo que nunca cai em desuso
    A decoração de vó é um estilo que nunca cai em desuso Foto: Crystal B./reprodução
  • Segundo Diego Aquino, essa decoração carrega marcas de um tempo em que o convívio era mais presencial, mais direto
    Segundo Diego Aquino, essa decoração carrega marcas de um tempo em que o convívio era mais presencial, mais direto Foto: Adam Roger/Reprodução
  • Na casa da avó, há texturas suaves, cheiros familiares, cores quentes e sons calmos
    Na casa da avó, há texturas suaves, cheiros familiares, cores quentes e sons calmos Foto: Momooze/Reprodução
postado em 27/04/2025 07:00
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