
Em um gesto de “solidariedade regional” à Venezuela e para evitar o agravamento das tensões com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca neste domingo (9/11) para Santa Marta, na Colômbia, onde participará da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Inicialmente, Lula não tinha planos de comparecer à reunião. Segundo interlocutores do Planalto, o presidente foi convencido por assessores a participar do encontro como forma de construir uma interlocução capaz de conter um possível confronto entre as forças de Nicolás Maduro e o governo de Donald Trump — o que seria o primeiro embate militar na América do Sul em décadas.
Venezuela em foco
Embora o objetivo principal da cúpula seja aproximar países latino-americanos e caribenhos da União Europeia, o Itamaraty admite que a crise venezuelana deve dominar os debates. “O tema (Venezuela) será discutido (na cúpula da Celac). Agora, como isso aparecerá na declaração final (da reunião), não tem como saber. Óbvio que o tema será discutido, porque é um tema grave da região”, afirmou a secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores, embaixadora Gisela Padovan.
A preocupação do governo brasileiro aumentou após recentes movimentações militares dos Estados Unidos no mar do Caribe. O governo americano, sob a justificativa de combate ao narcotráfico, tem avaliado uma operação terrestre na Venezuela — hipótese que acendeu o alerta no Itamaraty.
Apesar da sensibilidade do tema, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, nega que a defesa da Venezuela possa comprometer o papel de mediação do Brasil ou prejudicar as negociações comerciais em curso com Washington. “Temos que defender a América do Sul. Nós vivemos aqui. O Brasil tem fronteiras com 10 países da América do Sul. É diferente”, destacou Amorim, em entrevista na quinta-feira (6), durante a Cúpula de Líderes do Clima.
Amorim reforçou que Lula deve adotar uma posição de equilíbrio, defendendo a soberania regional e buscando diálogo. O presidente brasileiro chegou a propor, em reunião bilateral com Trump na Malásia, que o Brasil atue como interlocutor entre Washington e Caracas — papel que o país já desempenhou em crises anteriores, como em 2003, durante o governo Hugo Chávez, e recentemente, quando a Venezuela ameaçou ocupar a região de Essequibo, na Guiana.
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Soberania e divergências
O objetivo do governo brasileiro é deixar claro, tanto aos americanos quanto a outros países da região, que a soberania sul-americana não é negociável. Para o entorno de Lula, Brasil e Estados Unidos precisarão aprender a lidar com posições distintas sobre o regime de Maduro, sem comprometer o diálogo em outras frentes.
Na última quarta-feira (5/11), por exemplo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que o presidente aproveitará a reunião na Colômbia para manifestar apoio à Venezuela. “É um apoio, é uma solidariedade regional à Venezuela, tendo em vista que o presidente repetidamente já disse, e é a posição da nossa política externa, que a América Latina e, sobretudo, a América do Sul, onde nós estamos, é uma região de paz e cooperação”, declarou Vieira.
Diplomacia em movimento
Enquanto Lula se prepara para a cúpula, integrantes do governo devem seguir para Washington nos próximos dias para tratar de outro ponto sensível da relação bilateral: as sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Com uma agenda carregada e um cenário geopolítico delicado, a estratégia do governo brasileiro será reafirmar seu papel histórico de mediador na região e evitar que a América do Sul volte a ser palco de disputas externas.

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