
Depois de fugir do Brasil para evitar a prisão, a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) pode ser presa nas próximas horas. Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, as autoridades brasileiras já têm informações sobre o paradeiro da parlamentar na Itália.
"Já existe alguma ideia de onde ela esteja, e imaginamos que ela, em breve, será extraditada", afirmou Lewandowski em um evento da Universidade Santo Amaro (Unisa), em São Paulo. O ministro disse esperar que Zambelli seja mandada para o Brasil "o mais brevemente possível".
O governo italiano informou, nesta sexta-feira, que a deputada está no país desde 5 de junho. Ela se beneficiou de uma brecha na burocracia da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) para entrar no território. A congressista chegou ao país às 11h40 daquele dia, poucas horas antes de a Interpol incluir seu nome na lista de difusão vermelha a pedido da Justiça brasileira. O pedido de inclusão, no entanto, havia sido feito no dia anterior pela Justiça brasileira, que também determinou a prisão preventiva da deputada. Ela foi condenada a 10 anos de prisão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
"O intervalo temporal entre a chegada da senhora Zambelli e a difusão da notificação Interpol não permitiu às autoridades de polícia de fronteira italiana proceder à prisão, pois no momento do controle resultava sem antecedentes policiais no território nacional e sem evidências desfavoráveis encontradas nos atos", disse a subsecretária do Interior do governo italiano, Wanda Ferro, nesta sexta-feira, durante uma sessão no Parlamento italiano.
Na véspera do desembarque, quando Zambelli disse em uma entrevista que seria "intocável" na Itália por ter cidadania italiana, o deputado Angelo Bonelli (Europa Verde) já havia acionado o governo local pedindo que a brasileira fosse extraditada assim que chegasse ao país. Nesta sexta-feira, questionou Wanda Ferro sobre o assunto e criticou a inércia do governo italiano.
"Eu não posso acreditar que uma pessoa como eu soube disso e que a própria polícia não sabia que uma procurada havia dito na televisão previamente: 'Estou chegando à Itália'", disparou. "Estou desconcertado, desconcertado pela gravidade das declarações que este governo comunicou ao Parlamento", afirmou Bonelli. Ele insinuou que haveria uma omissão intencional por parte do governo, liderado pela extrema-direita.
E continuou: "Isso é uma vergonha inaudita. (...) Hoje sabemos, e o mundo sabe, os brasileiros sabem, a imprensa brasileira sabe, o governo brasileiro sabe que o governo italiano permitiu que a deputada Carla Zambelli entrasse na Itália, deixando-a entrar sem monitorá-la", criticou Bonelli.
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Rastreamento
Wanda Ferro também afirmou que, até a manhã desta sexta-feira, a polícia não sabia do paradeiro de Zambelli. "As verificações policiais até agora realizadas e ainda em curso não permitiram no momento individualizar a localização da senhora Zambelli. Prosseguem, todavia, as atividades voltadas ao seu rastreamento também através da cooperação internacional de polícia com as autoridades brasileiras", pontuou.
A representante do governo italiano ainda foi perguntada se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assim como seus filhos, solicitou ou obteve a cidadania italiana. Respondeu que Bolsonaro não fez a solicitação, mas ressaltou que seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos já possuem a cidadania há anos.
O Correio procurou o advogado Fábio Pagnozzi, que representa a deputada no Brasil, mas não obteve retorno. Também procurou a Polícia Federal, que não respondeu às tentativas de contato.