
Um inimigo silencioso ronda os homens acima de 40 anos. Por desconhecimento e preconceito, essa população de aproximadamente 25 milhões de pessoas no Brasil está vulnerável ao câncer de próstata. De evolução lenta e assintomático na fase inicial, trata-se do segundo câncer mais comum no país entre os homens — só fica atrás do câncer de pele —, com um registro de 71 mil novos casos por ano.
Esses dados iniciais já deveriam ser suficientes para se adotar uma rotina preventiva contra a doença. Para verificar a saúde da próstata, a medicina recomenda duas ações importantes: o exame de PSA, que identifica os níveis de Antígeno Prostático Específico, e o exame de toque retal, realizado por um urologista.
Essa prática é recomendada não somente para o câncer, mas também para a hiperplasia prostática benigna (crescimento da glândula, frequente em metade da população masculina) e prostatite (inflamação causada por bactéria). Ocorre que os pacientes brasileiros apresentam dificuldades que vão além da indisciplina para cuidar do próprio corpo.
Uma série de mitos, preconceitos, hábitos culturais e desinformação impedem os homens de ter uma atitude mais consciente sobre o autocuidado. E o câncer de próstata é um exemplo trágico dessa perigosa atitude marcada por teimosia e machismo. Estima-se que, em caso de detecção precoce, as chances de um tratamento bem-sucedido chegam a 90%. Por essa razão é fundamental os homens deixarem o orgulho de lado, entenderem a necessidade da prevenção e não medirem esforços em se cuidar — para o bem deles, da família e da sociedade.
O alerta para a condição masculina motivou o evento Novembro Azul: a saúde do homem em foco, realizado em Brasília pelos Diários Associados. Em dois painéis, especialistas reforçaram as medidas preventivas, detalharam as técnicas mais recentes de tratamento — entre elas, a cirurgia robótica — e insistiram muito na urgência de haver um esforço coletivo para convencer os homens a procurarem o médico. Nesse contexto, a família desempenha um papel estratégico: os médicos presentes no seminário ressaltaram a importância de esposas, filhas e sobrinhas insistirem em conscientizar o homem a irem ao consultório e realizar exames frequentes.
O envolvimento de parentes para o bem-estar do homem pode ser considerado fundamental na medida em que, como alertam os médicos, o câncer não é uma doença individual. Acomete o indivíduo, mas afeta todo o seio familiar. Essa foi a mensagem deixada pelo ministro Vital do Rêgo, presidente do Tribunal de Contas da União, na abertura do evento do Correio Braziliense. Em um depoimento emocionante, Vital do Rêgo contou o drama familiar por que passou ao acompanhar o sofrimento do pai, vítima de câncer de próstata.
Médico de formação, o presidente do TCU fez questão de salientar os bloqueios que muitas vezes afastam os homens da prevenção e levam-nos a situações críticas. "Meu pai pensava que, ao tirar a próstata, ele ficaria impotente. Perdeu a vida por tabu, desinformação, medo e falta de coragem de enfrentar algo que pode ser muito bem tratado", disse o magistrado.
O engajamento da família e a iniciativa pessoal dos brasileiros são fundamentais para evitar tanto sofrimento. Mas essas atitudes não diminuem a responsabilidade do poder público de implementar políticas voltadas para a saúde do homem. Essas ações podem ser direcionadas já na fase infantil, pois há outras ocorrências, como fimose e o câncer de pênis e de testículo, que têm uma incidência relevante entre os mais jovens.
Faz parte da cultura nacional o estereótipo de que o homem não precisa se cuidar, somente quando o caso é grave. Acredita-se, ainda, que uma intervenção médica na próstata pode causar impotência — mito amplamente contestado pelos médicos, que apontam uma série de alternativas para o paciente ter uma vida sexual ativa. É preciso deixar de lado todos esses tabus, em nome da ciência e da vida. E não apenas no mês de novembro.
