
JOSÉ PASTORE, professor da Faculdade de Economia da USP (aposentado) e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP
Em trabalho clássico, Rudiger Dornbusch e Sebastian Edwards apresentaram as seguintes características dos governantes populistas no campo econômico: (1) ao enfatizar crescimento com distribuição de renda, pouco se importam com a inflação e o deficit público; (2) desprezam as políticas ancoradas nos mecanismos do mercado, favorecendo grupos especiais, também chamados de campeões nacionais; (3) olham a sociedade como dividida entre elite e povo, ricos e pobres, atraindo a simpatia destes com programas sociais de vários tipos.
Os dois autores analisaram o curso do populismo durante décadas na América Latina, inclusive, no Brasil. Em todos os países, os candidatos populistas apresentam as mesmas características. Prometem o que não podem entregar. Uma vez eleitos, verificam não haver recursos para cumprir suas promessas. Solução: partem para o assistencialismo, pouco ligando para o desequilíbrio fiscal. Um trabalho mais recente mostra que, no final das contas, as políticas populistas reduzem o crescimento econômico.
Apesar disso, é difícil para os países se livrarem de governantes populistas. Populismo geralmente provoca crises econômicas que desembocam em outros populistas.
O Brasil vive hoje um clima de populismo. Os gastos do governo federal para o assistencialismo saltaram de R$ 93 bilhões, em 2019, para R$ 286 bilhões, em 2025. Nesse período, a inflação foi de 40%. Amargamos um deficit público crescente e ameaçador. No campo político, o governo instiga o confronto entre ricos e pobres por meio de slogans e palavras de ordem de cunho estritamente emocional.
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Com isso, as despesas públicas vão aumentando, enquanto o governo despreza uma redução de gastos e a reforma administrativa. Um lobby silencioso, mas muito eficaz, defende e mantém privilégios, penduricalhos e supersalários nos Três Poderes. Recentemente, representantes de juízes, procuradores e outros altos funcionários do governo central obtiveram êxito ao convencer parlamentares para retirarem suas assinaturas de uma PEC que buscava reformar o Estado.
Grupos como esse têm tido sucesso na captura de recursos públicos de grande monta. É o que Daron Acemoglu e James Robinson (Prêmio Nobel de 2024) chamam de "ações extrativistas" — quando privilegiados extraem para si os recursos que seriam destinados à melhoria da qualidade de vida dos mais pobres.
No Congresso Nacional, o populismo está infiltrado em vários setores, lembrando, aqui, o enorme volume de recursos que é drenado para as emendas parlamentares.
O governo central faz vista grossa para o gigantesco deficit que se acumula na maioria das empresas estatais e fundos de aposentadoria e pensões — verdadeiras máquinas de prejuízos. Só os Correios precisam de R$ 20 bilhões de empréstimo para não quebrar.
O desrespeito à Lei da Responsabilidade Fiscal é frequente, o que obriga o Banco Central a manter juros estratosféricos que comprometem o crescimento e mantêm o Brasil no rol dos países de renda média, sem sair do lugar. Com isso, o padrão de vida dos brasileiros vai caindo a cada dia.
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Fazem muita falta, entre nós, instituições de boa qualidade para impedir a prática desenfreada do extrativismo e do populismo desenfreados. O que me espanta é ver milhões de brasileiros acreditando até hoje nos salvadores da pátria. Confiam mais nos falsos heróis do que em boas instituições. Com o seu apoio, os governantes populistas seguem capturando 1/3 de tudo o que é produzido, sem entregar o básico para o país crescer de forma sustentável — o que mais prejudica os pobres. Há décadas, o Brasil é um dos países em desenvolvimento que menos cresce.
Na linha da gastança, o governo multiplica o número de programas que geram bons ventos eleitorais, pouco se importando com a manutenção do necessário equilíbrio fiscal. Em nada adianta o Tribunal de Contas da União repreender a contabilidade criativa ora em andamento e que exclui volumosas despesas da meta fiscal.
É assim que entraremos no próximo ano eleitoral. Mas o populismo nunca deu certo em lugar nenhum. É hora de voltarmos à realidade e lutarmos por regras claras e instituições fortes que garantam o bom senso e afastem os aventureiros.

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