Opinião

Abaixo qualquer extremo

A polarização, muitas vezes, não respeita a lógica e descamba para o fanatismo. Quando a paixão doentia se sobrepõe à razão, a receita é quase sempre desastrosa

O ativista conservador Charlie Kirk teria sido executado nos EUA por alguém que não compactuava com sua ideologia -  (crédito:  Reprodução/Video)
O ativista conservador Charlie Kirk teria sido executado nos EUA por alguém que não compactuava com sua ideologia - (crédito: Reprodução/Video)

Quando um ser humano comemora o assassinato de outro, sob a justificativa de que a vítima era extremista, acaba por revelar a própria podridão. Charlie Kirk, cofundador do movimento Turning Point USA, teria sido executado com um tiro no pescoço por alguém que não compactuava com sua ideologia. O atentado atroz e cruel contra o ativista conservador alinhado a Donald Trump ressoou no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Políticos da direita não perderam tempo em generalizar e acusar a esquerda de desejar matar oponentes. Um comportamento instilado de ódio, que somente fomenta mais divisão e cria ambiente para a violência política prosperar.

Vivemos tempos difíceis. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a polarização, muitas vezes, não respeita a lógica e descamba para o fanatismo. Quando a paixão doentia se sobrepõe à razão, a receita é quase sempre desastrosa. Os bolsonaristas e os trumpistas não teriam invadido e depredado o Congresso Nacional, o Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Capitólio se não estivessem totalmente entregues a uma figura política ou a uma ideologia, tantas vezes nociva, misógina, homofóbica, divisiva e racista.

O cortejo a qualquer extremo pode ter consequências terríveis. Que o digam os condenados pelos atos golpistas de 8 de Janeiro e pela tentativa de intentona no Brasil. A idolatria a uma liderança — Jair Messias Bolsonaro — e o ódio aberto à esquerda ou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva fizeram com que pagassem com a própria liberdade pelos desatinos e pela fúria por não aceitarem a derrota.

Um certo deputado começou a fazer campanha, nas redes sociais, para que as empresas privadas demitam os funcionários que se simpatizem com a esquerda. Como se o fato de um empregado ser "esquerdista ou "comunista" seja um atestado de incompetência ou de inaptidão para o cargo. O mesmo deputado apregoa a liberdade de expressão (?). Um médico neurocirurgião brasileiro "celebrou" a morte de Kirk e teve o visto cassado pelo governo dos Estados Unidos. Parlamentares da direita também foram alvo de mensagens ameaçadoras de quem se diz seguidor da esquerda.

Caminhar pelas sendas do extremismo pode ser perigoso. É preciso encontrar o equilíbrio e não permitir ser "seduzido" por qualquer ideologia distorcida. Por mais que Kirk tenha sido radical em alguns de seus posicionamentos e que divergisse de milhões de pessoas, era um cidadão, um ser humano, marido, pai de duas crianças lindas. Vítima de um crime atroz, perpetrado muito provavelmente por um fanático que não coadunava com suas opiniões.

A moderação e o domínio da razão sobre a emoção, principalmente em áreas sensíveis, como a política e a religião, são pontos urgentes e cruciais para evitar exageros e mesmo violência. Respeitar as diferenças e conviver em harmonia deveria ser a premissa de qualquer sociedade civilizada. Abaixo os extremos. Sempre.

 

postado em 17/09/2025 05:05
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