Visão do Correio

É urgente resposta à tragédia na Faixa de Gaza

Enquanto não há acordo e uma reação efetiva de líderes internacionais, segue em curso o método que ceifa vidas e a esperança de dias melhores em Gaza

Profissionais de saúde denunciam que crianças não são atingidas por tiros acidentais -  (crédito:  AFP)
Profissionais de saúde denunciam que crianças não são atingidas por tiros acidentais - (crédito: AFP)

A cerimônia do Emmy neste ano ficou marcada, para além das premiações, pela manifestação de alguns artistas por uma "Palestina Livre", diante da mais recente ofensiva israelense na Faixa de Gaza. Estrela da série Hacks, a atriz Hannah Einbinder falou em "libertação da Palestina" em seu discurso, ao vencer como melhor atriz coadjuvante; Megan Stalter, do mesmo seriado, vestiu uma bolsa com a palavra "cessar-fogo"; o espanhol Javier Bardem fez protesto semelhante no tapete vermelho.

Ainda que as manifestações desses artistas sejam válidas e necessárias, elas se mostram insuficientes para frear a destruição do conclave. Ontem, forças israelenses iniciaram uma nova invasão à Cidade de Gaza — desta vez, pela via terrestre. É uma escalada sem fim que dura quase dois anos —  desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023  — e matou milhares de pessoas, boa parte delas crianças. 

O factual é insuficiente para dar o devido peso à tragédia. Reportagem publicada no último sábado pelo jornal holandês De Volkskrant, um dos principais do país, mostra o tamanho da catástrofe em Gaza. Durante meses, a equipe de reportagem entrevistou profissionais de saúde que atuam na linha de frente dos hospitais na região e recebeu notas e exames feitos por eles. Os relatos são assombrosos.

Entre outros destaques da apuração — feita majoritariamente pelos próprios profissionais de saúde, devido à proibição do acesso de jornalistas à Gaza por parte de Israel —, 15 dos 17 trabalhadores entrevistados relataram ter atendido ao menos uma criança ou adolescente de até 15 anos com ferimentos à bala na cabeça ou no peito. No total, esses médicos, enfermeiros e cirurgiões listaram 114 vítimas com essas características. 

Boa parte das crianças e dos adolescentes atingidos tinha balas alojadas no corpo, indicando que não foram vítimas de ataques aleatórios. Do ponto de vista da medicina forense, projéteis deveriam atravessar corpos jovens, ainda não 100% formados. Se ficam alojados, é um claro indicativo de disparo à longa distância.

Diante do alto número de vítimas, os profissionais ouvidos na reportagem do jornal holandês descartam qualquer possibilidade de ferimento acidental. Esse tipo de relato não é substancialmente novo na história da escalada bélica no conclave, o que torna ainda mais urgente uma resposta do mundo para que o massacre na região seja interrompido imediatamente.

A divulgação do mais contundente relatório sobre o genocídio em Gaza deveria também mobilizar tal reação. Publicado ontem, o documento com 72 páginas redigido por uma comissão de inquérito contratada pelas Nações Unidas é enfático ao afirmar que o presidente israelense, Isaac Herzog, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant "incitaram o genocídio" e  "não tomaram medidas para puni-los".

Israel segue negando as acusações. Nas palavras de Daniel Meron, embaixador de Israel na ONU em Genebra, o novo relatório é "um panfleto difamatório" redigido por "prepostos do Hamas". Enquanto não há acordo e uma reação efetiva de líderes internacionais, segue em curso o método que ceifa vidas e a esperança de dias melhores em Gaza.

 

Por Opinião
postado em 17/09/2025 05:00
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