
ISABELLA CAMPOS DA PAZ, Musicoterapeuta e professora de canto
Você sabia que a musicoterapia é uma profissão que é embasada cientificamente e que vem ganhando cada vez mais visibilidade pelo reconhecimento da sua eficácia em promover a saúde e o bem-estar de pessoas de todas as idades?
Em 15 de setembro, comemora-se o Dia do Musicoterapeuta no Brasil, e os musicoterapeutas celebram a grande vitória pela recém-conquistada regulamentação da profissão. Regulamentar foi importantíssimo, pois, quando se trata da saúde de pessoas, é imperativo garantir que o profissional formado saberá usar de modo criterioso e cuidadoso abordagens e intervenções musicais para a promoção da saúde, sem causar danos aos pacientes, ou seja, as chamadas iatrogenias.
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Após a regulamentação, tornou-se mandatório que a formação do profissional musicoterapeuta seja feita exclusivamente por meio da realização de uma graduação em musicoterapia, oferecida no Brasil por universidades federais e particulares.
Mas o que é a musicoterapia? A música está bastante presente em nosso cotidiano e, mesmo antes de nascermos, já ouvíamos sons no ventre de nossa mãe. Frequentemente ligamos o rádio, a TV ou acessamos músicas no celular, que cumprem diferentes funções em nossa vida. Há músicas para realizar atividades físicas, motivar o estudo ou mesmo aliviar sentimentos de raiva ou tristeza, após a perda de um ente querido, a demissão de um emprego significativo ou o término de um namoro na vida de um adolescente. Sim, em muitos momentos, a música que ouvimos ou criamos é nossa melhor amiga, exerce uma função terapêutica, mas isso ainda não é musicoterapia.
Para se definir musicoterapia, é preciso entender o conceito de terapia, que engloba dois pontos fundamentais: o fato de ser um tratamento e o fato desse tratamento se desenvolver por meio de um processo terapêutico ao longo do tempo, por intermédio de sessões estruturadas, sempre com objetivos bem definidos. Isso posto, entra em cena o responsável por conduzir esse processo, sem o qual esse não pode ocorrer, que é o musicoterapeuta, capacitado e habilitado para tal.
Assim sendo, entende-se que a música pode ter função terapêutica em diversos momentos da vida, como ocorre com o adolescente que ouve música ou toca guitarra para aliviar seu coração. Porém, dentro de um processo musicoterapêutico, a música irá além e servirá como meio de transformação, para que esse mesmo adolescente, ao tocar, cantar, compor ou recriar canções junto ao musicoterapeuta, além de liberar emoções retidas, passe a se conhecer melhor, aprenda a lidar com seus sentimentos, dê um novo significado ao fato vivido e possa olhar para o futuro, quem sabe para um novo relacionamento.
Esse foi apenas um exemplo de como a musicoterapia pode ser benéfica. Em hospitais, ela ajuda a diminuir a dor e torna o paciente mais receptivo ao tratamento. Nas escolas, desenvolve habilidades cognitivas e socioemocionais. Em empresas, favorece a comunicação e relações mais saudáveis. Em comunidades, promove a inclusão e a interação social.
Mulheres que enfrentam os desafios da gestação, crianças que sofrem bullying, adultos com alto nível de estresse, pessoas que sofrem assédio moral ou que sofreram abuso sexual, pessoas com dores crônicas, pessoas com câncer ou que sofreram AVC, idosos com Alzheimer ou Parkinson, pessoas com problemas mentais ou quaisquer traumas físicos e emocionais — todos podem se beneficiar da musicoterapia.
Ana, filha de Dona Beatriz, diagnosticada com demência aos 83 anos, dá seu depoimento*: "A musicoterapia ajudou minha mãe a sair da depressão, após a perda do meu pai. Ela foi resgatando memórias agradáveis, aprendeu novas músicas, passou a ter prazer em se relacionar e a se divertir. Com o canto, fortaleceu a área da deglutição, de dicção e até da respiração. A introdução da música nas atividades rotineiras, como o caminhar, tornou tudo mais fácil e prazeroso. Quando ela levanta, a gente canta 1,2, feijão com arroz, e, no 3,4, ela já inicia o próximo passo e segue caminhando e cantando".
No Dia do Musicoterapeuta, celebremos não apenas uma profissão, mas uma forma única de cuidar e desenvolver vidas por intermédio da música. Parabéns a todos os musicoterapeutas pelo seu dia e pelo trabalho transformador que realizam.
*Nomes fictícios para preservar identidades, depoimento autorizado