
O governo brasileiro enfrenta uma das mais sérias crises diplomáticas e comerciais das últimas décadas, deflagrada pela decisão unilateral do presidente Donald Trump de impor um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Sob o pretexto de "ameaças à segurança nacional", a medida é, na verdade, um instrumento de coerção política, direcionado não contra o comércio, mas contra as instituições brasileiras — em particular, o Supremo Tribunal Federal (STF), acusado veladamente de perseguir Jair Bolsonaro, aliado pessoal do presidente norte-americano.
Diante dessa investida, o Brasil precisa responder com equilíbrio, firmeza e inteligência estratégica. O ministro Alexandre de Moraes sinalizou corretamente a posição do Judiciário ao afirmar que o STF "não se envergará a ameaças covardes e infrutíferas". A mensagem é clara: as decisões judiciais no país não serão moldadas por pressões externas, especialmente de governos que demonstram desprezo por normas internacionais e pelo princípio da separação entre os Poderes.
Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou uma linha serena, anunciando medidas de proteção à indústria e ao agronegócio brasileiro sem falar em "retaliação". Longe de ser sinal de fraqueza, essa postura demonstra maturidade institucional e compromisso com uma saída racional, que evite a escalada do conflito. O Brasil não deve reagir com espelhamento, mas com soberania e responsabilidade.
Nesse cenário, ganha peso o papel do Itamaraty, que precisa mobilizar toda sua capacidade de articulação internacional. Há espaço para negociar setores específicos atingidos pelas tarifas, como café, aço e proteínas animais, ao mesmo tempo em que o Brasil deve buscar respaldo nos fóruns multilaterais — como a Organização Mundial do Comércio (OMC) — e fortalecer alianças com outros países prejudicados pela política tarifária agressiva de Trump.
O alerta mais contundente, no entanto, veio do economista e Nobel Paul Krugman. Em artigo publicado no The New York Times, Krugman classificou a medida como "ilegal e politicamente desastrosa". Segundo ele, o uso de tarifas como instrumento de pressão política fere as próprias leis americanas. "Nem o advogado mais ardiloso e sem escrúpulos conseguiria justificar uma sanção baseada em discordância com decisões judiciais de outro país", escreveu.
Krugman também sublinhou a ineficácia da tática: os Estados Unidos representam apenas 12% das exportações brasileiras. "Trump e seus assessores acham mesmo que podem intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes quando 88% de seu comércio exterior é com outras nações?", provocou. Para ele, a manobra tarifária é uma tentativa de chantagem política que revela um delírio de grandeza típico de líderes autoritários.
Diante desse quadro, a resposta brasileira deve ser clara: negociar, sim, mas com dignidade; e resistir sempre que os princípios da soberania e da democracia forem ameaçados. Resistir ao tarifaço e negociar com soberania não são caminhos excludentes. Pelo contrário, formam uma única estratégia: firme na defesa dos interesses nacionais, diplomática na forma, mas inegociável nos princípios. Essa é a resposta que uma democracia madura oferece diante de agressões disfarçadas de política comercial.
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