ARTIGO

Eternamente Cazuza

Em estada recente no Rio de Janeiro, pude perceber o quanto os cariocas cultuam Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza

. -  (crédito: Credito/CB/D.A Press)
. - (crédito: Credito/CB/D.A Press)

Em estada recente no Rio de Janeiro, pude perceber o quanto os cariocas cultuam Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza.  O Circo Voador, espaço cultural localizado no centro da cidade, ao lado do bairro boêmio da Lapa, estava lotado, no dia 11 último, na homenagem prestada pela banda que acompanhava o poeta do rock, com a participação especial de Ney Matogrosso.  

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Ney interpretou três canções: os clássicos Poema, Brasil —  tema de abertura da novela Vale Tudo —, além de Agora só falta você (composta por Rita Lee). Presente na plateia do show, Lucinha Araújo, a mãe do cantor, era pura emoção.

No Rio, muita gente tem ido às salas de cinema para assistir a Cazuza: boas novas, documentário dirigido pelo guitarrista Nilo Romero e por Roberto Moret, que revisita os últimos anos da vida do cantor; assim como à exposição Cazuza exagerado, instalada em nove salas no terraço do Shopping Leblon, bairro da Zona Sul carioca. 

A mostra recria de forma cenográfica toda a trajetória do artista, desde a infância até o auge, como vocalista do Barão Vermelho e na carreira solo. Em várias delas, é possível ouvir música e assistir a vídeos e interagir com cenários, criados com tecnologia de ponta.

São 700 itens pessoais, como letras, poemas, cartas, fotografias, cartazes e  desenhos, preservados pela família — vários inéditos e nunca mostrados ao público. A experiência é sensorial e usa inteligência artificial e hologramas. 

Na Sala 9, chamada de Eu ando muito bem acompanhado, foi recriada a Pizzaria Guanabara, point frequentado, na década de 1980, por personalidades da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bebel Gilberto e Roberto Frejat. Aquele era um dos locais preferidos de Cazuza.

Dono de interessante performance cênica, Cazuza foi o responsável por saudar a retomada da democracia no Brasil, depois de quase 20 anos sombrios, entre 1964 e 1985 — promovido pela ditadura militar. Isso ao interpretar de forma comovente Pro dia nascer feliz na primeira e histórica edição do Rock in Rio. À época, ele era o vocalista da banda Barão Vermelho. Assisti à performance bem próximo ao palco.

Voltaria a aplaudir Cazuza aqui na cidade, em junho daquele ano, no Ginásio Nilson Nelson. Antes da apresentação, o entrevistei no hotel em que ficou hospedado. Meses depois, fui vê-lo e ouvi-lo no espaço cultural do Pão de Açúcar. Após o show, ao comprimentá-lo no camarim, ele me convidou para se juntar aos seus amigos e participar da comemoração no bar Real Astória, no Leblon.

Cazuza é personagem do Minha trilha sonora, livro que lancei em 2005 para celebrar 30 anos de jornalismo como repórter e colunista do Correio Braziliense. O artigo que escrevi sobre ele recebeu como título Um iconoclasta exagerado. Ao se referir a Brasília, afirmou: "Eu a acho fantástica, meio solitária geograficamente, mas, ao mesmo tempo, sede dos Três Poderes da República. Tudo isso me fascina muito"

 

IR
postado em 29/07/2025 06:03
x