
Bete Marin — especializada em gerontologia, marketing e comunicação. Cofundadora da MV Marketing, agência dirigida ao consumidor 50+
O Brasil atravessa uma transformação irreversível e sem precedentes: o envelhecimento populacional avança em um ritmo ainda mais acelerado do que previam as pesquisas demográficas realizadas nos últimos anos. De 2000 a 2023, a proporção de idosos na população quase duplicou. Os dados do IBGE mostram que, nesse período, a participação das pessoas com 60 anos ou mais passou de 8,7% para 15,6%. Em números absolutos, o total de idosos saltou de 15,2 milhões para 33 milhões. Em 2070, estima-se que cerca de 37,8% dos brasileiros, o equivalente a 75,3 milhões de pessoas, terão 60 anos ou mais.
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Segundo estimativas recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), a população com 50 anos ou mais já representa 29% dos brasileiros e deve atingir 40% até 2044, o que corresponde a quatro em cada 10 habitantes. Esse movimento demográfico começa a redesenhar prioridades e comportamentos de consumo em diferentes setores da economia, incluindo o mercado imobiliário, que precisa se preparar para atender demandas cada vez mais específicas de uma sociedade que envelhece rapidamente.
De acordo com projeções da Data8, a economia prateada, que engloba o consumo do público 50 , movimenta hoje US$ 22 trilhões por ano no mundo, configurando-se como a terceira maior economia global. No Brasil, esse segmento soma R$ 1,8 trilhão em consumo anual, equivalente a 24% de todo o consumo privado. A projeção é de que esse volume ultrapasse R$ 3,8 trilhões até 2044, alcançando 35% de participação no consumo nacional.
O impacto direto no mercado imobiliário é expressivo: segundo estudo da Data8, entre 26% e 30% do orçamento mensal dos consumidores maduros é destinado à moradia. No entanto, a maioria das residências brasileiras não foi planejada para essa nova realidade. Segurança, acessibilidade, conforto e proximidade com serviços tornaram-se prioridades em todas as classes sociais, e essa lacuna cria uma série de oportunidades para o setor.
Além disso, o comportamento de consumo aponta uma preferência clara por soluções que preservem autonomia e vínculos afetivos. Segundo o Censo 2022, 28,7% das pessoas que vivem sozinhas têm 60 anos ou mais: são 5,6 milhões de idosos em domicílios unipessoais, a maior proporção entre todas as faixas etárias.
A segurança residencial é um exemplo concreto dessa nova demanda. O aumento de quedas dentro de casa entre pessoas maduras já é tratado como um problema de saúde pública. Este também foi um dos fatores que me motivaram a me aprofundar no tema da longevidade e do morar, buscando especialização após vivenciar de perto essa realidade com meus pais, que sofreram sérias consequências em decorrência de quedas domésticas. Projetos que incorporem soluções de prevenção, desde a fase de concepção arquitetônica, terão maior aderência comercial e valor percebido.
Nesse contexto, o mercado imobiliário já sente os efeitos desse novo perfil de consumidor. Há um crescimento consistente da busca por imóveis com plantas funcionais, menos barreiras arquitetônicas, elevadores, áreas de convivência e localização estratégica. Muitos consumidores maduros, após a saída dos filhos, optam por imóveis menores, mas com infraestrutura ampla, maior segurança e serviços integrados. Também cresce o interesse por condomínios com espaços colaborativos e residenciais que ofereçam apoio ao bem-estar e qualidade de vida.
A longevidade é mais do que um fenômeno demográfico: ela se consolida como uma nova fronteira de inovação, diferenciação e crescimento para o mercado imobiliário brasileiro. O impacto vai além da construção civil, movimenta toda a cadeia de valor que orbita o morar: indústria moveleira, arquitetura, tecnologia residencial, serviços de bem-estar e hospitalidade.
Nem todos os 50 têm os mesmos desejos e necessidades. Existe um amplo espectro de perfis, dos mais ativos, que valorizam experiências, aos que priorizam segurança e tranquilidade. Compreender essa diversidade e criar soluções alinhadas ao propósito de viver com autonomia e qualidade de vida é essencial e abre inúmeras oportunidades de inovação.
Quem deseja se manter competitivo precisa olhar para esse público com atenção, empatia e estratégia. Estamos vivendo uma transformação sem precedentes e os empreendimentos que souberem inovar com propósito terão uma vantagem competitiva robusta. É hora de colocar a longevidade no centro das decisões e construir projetos que façam sentido para o presente e para o futuro.
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