
ALEXANDRE SILVEIRA
Ministro de Minas e Energia
Vindo de uma família fervorosamente católica, batizado, crismado e coroinha na infância, mantenho minha fé religiosa desde então. Com essa trajetória associada ao cristianismo, tive a oportunidade de realizar um dos encontros mais impactantes de minha vida há quase um ano, quando fui recebido pelo papa Francisco em audiência no Vaticano. Impressionou-me muito sua figura radiante e calorosa, vestido com a tradicional túnica branca e portando a cruz sobre o peito.
Depois de me identificar como nascido em Minas Gerais, entreguei-lhe alguns presentes simbólicos, como uma camisa da Aliança Global de Combate à Fome e à Erradicação da Miséria, na época em articulação pelo governo brasileiro. Levei também uma caixa com pedras decorativas de Ouro Preto, cidade histórica conhecida por algumas das mais belas igrejas do Brasil. Não podia faltar uma amostra de café, um dos principais produtos típicos do nosso estado. Como apaixonado por futebol, ele também recebeu uma lembrança do meu time, o Galo, nosso Clube Atlético Mineiro.
Muito já se falou sobre o legado de Francisco, mas gostaria de acentuar que sua preocupação e suas atitudes frente aos desafios globais, como as mudanças climáticas e o aquecimento global, ajudaram a despertar a atenção internacional e a cobrar ações efetivas dos países em favor da transição energética, principalmente os desenvolvidos.
Nesse particular, foi no tema das desigualdades sociais e da sustentabilidade que nosso diálogo se mostrou mais produtivo, tendo como foco uma Carta Aberta que lhe entreguei, na qualidade de ministro de Minas e Energia. O documento contém "Dez Princípios Básicos para a Transição Energética Justa e Inclusiva".
No decálogo, expressamos a posição brasileira segundo a qual a transição energética não pode ficar circunscrita à adoção de novas tecnologias e deve "combater a pobreza energética em todas as suas formas, com foco em garantir o acesso universal à energia elétrica e a tecnologias limpas para cozinhar". É também vital "internalizar as perspectivas de gênero, de raça e étnicas nas políticas de energia".
Há perfeita sintonia entre essa visão da Carta Aberta e os 12 anos de pontificado de Francisco, que sempre atuou em defesa dos pobres, dos perseguidos, dos marginalizados, das vítimas do preconceito, dos refugiados e dos idosos, entre tantos vulneráveis. Com notável sensibilidade social, mostrou firmeza em seus valores ao promover o enfrentamento da Igreja aos que se opunham à missão de acolher os diferentes e ao lutar contra a segregação dos mais variados tipos.
Na audiência que tivemos no Vaticano, ele estimulou nosso governo a manter com perseverança as políticas públicas de inclusão para dar dignidade às pessoas e buscar soluções a fim de que não prevaleçam problemas como a fome. Ao Estado caberia socorrer efetivamente as pessoas que mais necessitam, visando à construção de uma sociedade melhor.
O Brasil sentirá muita saudade de Francisco, da sua identidade com o povo, de seu sorriso aberto, de sua coragem e de seu carinho pelo nosso país, o primeiro do mundo que visitou depois de se tornar papa. Que agora, nos braços do Pai, siga zelando pelo povo e pelo planeta.