
Faltando cerca de 200 dias para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da ONU, António Guterres, reiteraram o alerta sobre a urgência climática. Na última quarta-feira, o chefe do governo brasileiro e o dirigente do órgão máximo do multilateralismo reforçaram a necessidade de os países acelerarem as medidas de contenção do aquecimento global. E cobraram uma participação maior dos países desenvolvidos, que têm responsabilidade direta no desequilíbrio ambiental que ameaça formar um cenário sem precedentes na era moderna.
Entre as várias ações pendentes para a Cúpula em Belém, está a definição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), a parcela de esforço de cada país em favor da sustentabilidade. Até aqui, apenas 10% das nações envolvidas nas negociações apresentaram esse percentual. As NDCs deveriam ter sido definidas em fevereiro, mas o prazo foi estendido para setembro. O Brasil anunciou a sua meta no ano passado, na COP29, realizada no Azerbaijão: reduzir 67% de emissões de gases de efeito estufa até 2035.
Lula e Guterres conduziram a Cúpula Virtual sobre Ambição Climática. No discurso de abertura, o presidente mencionou algumas das previsões sombrias amplamente divulgadas pela comunidade científica. Disse que o aquecimento global está ocorrendo em uma velocidade maior do que o previsto; que a temperatura média da Terra ultrapassou pela primeira vez, em 2024, o limite crítico de 1,5ºC acima dos níveis anteriores à Revolução Industrial; que a Amazônia enfrentou a maior seca da história no ano passado; e que a degradação ambiental está provocando fenômenos devastadores, como o branqueamento massivo de corais nos oceanos.
"Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer", advertiu Lula. Ainda é incerto, porém, se a mensagem do governante brasileiro terá a repercussão necessária para induzir um movimento global em favor da sustentabilidade. É verdade que economias relevantes, como China e União Europeia, participaram da Cúpula Virtual, em um gesto de sensibilidade aos apelos em favor do meio ambiente. Mas o impasse permanece, e ele é de caráter financeiro: é preciso buscar um consenso para que US$ 1,3 trilhão sejam investidos anualmente até 2035 a fim de evitar o colapso global.
Essa equação tem se tornado cada vez mais difícil, especialmente quando os Estados Unidos, o segundo país emissor de gases de efeito estufa, passam por uma reviravolta com o governo Trump. O chefe da Casa Branca já deixou claro que pretende dar prioridade à produção de combustíveis fósseis e esvaziar iniciativas para energias renováveis. Em janeiro, Trump abandonou, pela segunda vez, o Acordo Climático de Paris. As perspectivas, como se vê, são pessimistas.
Como ressaltou Lula, os países que enriqueceram na "economia do carbono" precisam se engajar firmemente no enfrentamento da crise climática. Do contrário, a Cúpula de Belém corre o risco de cair no esvaziamento.