Futebol

Do Dia do Goleiro ao papa camisa 1

Eles são chamados de "milagreiros". Alguns deveriam ser canonizados. Um deles até foi. Antes do pontificado, Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, zelava pelas balizas nas peladas na Polônia

O papa João Paulo II: goleiro na Polônia antes do pontificado -  (crédito: KLEBER SALES)
O papa João Paulo II: goleiro na Polônia antes do pontificado - (crédito: KLEBER SALES)

Hoje é Dia do Goleiro. A data foi escolhida em homenagem ao nascimento de um dos melhores. O pernambucano Haílon Corrêa de Arruda, o Manga, nasceu justamente em 26 de abril e morreu no último dia 8, aos 87 anos. "Nunca fui bom na linha. Raridade. Canhotos costumam virar fora de série. Considero-me perna de pau. Daí a minha posição preferida quando jogo: cuidar das traves. Era onde eu me realizava no futebol. Oportunidade de ser um dos primeiros escolhidos no par ou ímpar dos colegas craques nas peladas de rua. Dificilmente alguém deseja assumir as luvas".

Os goleiros são os mais maltratados pelo futebol. As grandes revoluções e evoluções na regra dizem respeito a este ser solitário. Em 1992, por exemplo, ele foi proibido de usar as mãos nas bolas recuadas. Nascia a fábrica de "Higuitas", "Rogérios Cenis" e "Chilavertes". Todos eles fontes de inspiração para craques como o alemão Manuel Neuer, herói do tetra germânico.

A vida dos goleiros é sempre a mais impactada nas atualizações. A partir de 2023, ficaram proibidos de provocar ou tentar distrair o adversário na cobrança de pênalti. Não podem tocar nas traves e na rede antes da cobrança. Adiantar-se, então, é pecado mortal. Os pés têm de ficar em cima da linha nas cobranças. Mesmo assim, vários juízes — e até os árbitros assistentes de vídeo — ignoram a malandragem.

Havia o tal do sobrepasso, quando o goleiro dava mais de três passos com a bola na mão dentro da área. Recentemente, entrou em cena a regra dos 8 segundos na tentativa de evitar a "cera", ou seja, segurar a bola para ganhar tempo e conter o adversário. Há vários assim no Brasil...

Goleiros são chamados de "milagreiros", "abençoados". Na verdade, alguns deveriam ser canonizados. Um deles até foi. Antes do pontificado, Karol Wojtyla, o papa João Paulo II, zelava pelas balizas nas peladas em Wadowice, na Polônia. Anjo da guarda dos bons! "A gente admirava a disciplina que foi imposta pelo pai dele. você podia ver isso na maneira como jogava. Se Karol por acaso marcasse um encontro com o pai na hora do jogo, deixava o campo durante a partida para se encontrar com ele", testemunhou Stanislaw Jura, amigo de infância de João Paulo II, em 1999, em uma entrevista à revista Frontline.

Contam que João Paulo II era robusto e corajoso no espaço de 7,32m de comprimento por 2.44 de altura. "Quando ele atuava como goleiro, era como um leão em frente à meta. Corpulento, forte e atlético", define Stanislaw Jura no trecho registrado por Paulo Guilherme no livro Goleiros: heróis e anti-heróis da camisa 1. Recomendo!

Há quem diga que goleiros precisam decorar Salmos 144.1 e recitá-lo religiosamente antes do início de uma partida de futebol. "Bendito seja o Senhor, minha rocha, que adestra as minhas mãos para a peleja e o meus dedos para a guerra".

De Manga a João Paulo II, sobre goleiros e papas, há uma certeza elaborada brilhantemente pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano em Futebol ao sol e à sombra: "Carrega nas costas o número 1. Primeiro a receber, primeiro a pagar. O goleiro sempre tem a culpa. E se não tem, paga do mesmo jeito".

MP
postado em 26/04/2025 06:00 / atualizado em 26/04/2025 06:00
x