Drenagem

Visão do Correio: Drenagem das chuvas precisa ser prioridade

Metade dos municípios vive hoje sob risco alto ou muito alto de ser afetada por um evento hidrológico extremos nos próximos cinco anos.Ainda assim, apenas 32,5% têm sistemas de drenagem

Porto Alegre: tragédia no RS pode se repetir em outros locais do país  -  (crédito: Mauricio Tonetto/Secom/GRS)
Porto Alegre: tragédia no RS pode se repetir em outros locais do país - (crédito: Mauricio Tonetto/Secom/GRS)

A combinação perversa entre mudanças climáticas e falta de sistemas de drenagem de águas pluviais está entre as causas das catástrofes urbanas brasileiras. Metade dos municípios vive hoje sob risco alto ou muito alto de ser afetada por um evento hidrológico extremo nos próximos cinco anos. Ainda assim, apenas um em cada três (32,5%) tem sistemas de drenagem e somente 5,3% desenvolveram Planos Diretores de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais (PDD). Os dados fazem parte de um levantamento divulgado, nesta terça-feira, pelo Instituto Trata Brasil e sinalizam, entre outras análises, que tragédias como a do Rio Grande do Sul tendem a se repetir pelo resto do país.

No ano passado, 1.390 municípios ocuparam-se de fazer o monitoramento de dados hidrológicos urbanos, outros 1.523 mapearam as  áreas de risco de inundação e 2.775  (56%) nada realizaram. A maioria, portanto, ignorou a possibilidade de tragédias causadas pelos temporais, mesmo com  a crise climática não dando trégua. Só em 2023, foram registrados 30.575 eventos hidrológicos causando inundações, alagamentos e enxurradas com fortes impactos nas comunidades atingidas. Em média, 137 pessoas a cada 100 mil habitantes foram deslocadas de onde moravam em razão dos estragos causados ou dos riscos considerados.

Em 32 anos (1991-2023), 3.644 pessoas morreram no Brasil em deslizamentos, enchentes, entre outras ocorrências provocadas pelas chuvas intensas. Há de se ressaltar que o relatório não considerou a  tragédia no Rio Grande do Sul, prestes a completar um ano, quando morreram 179 pessoas e quase 90% do território gaúcho foi afetado pelo fenômeno climático. Segundo especialistas, a dificuldade para escoar a água — tanto por razões naturais quanto por falta de investimentos em sistemas de drenagem eficientes — agravou a situação, acompanhando em tempo real pelos brasileiros, incluindo líderes e gestores públicos.

No último sábado, a Grande São Paulo foi afetada por chuvas torrenciais, acompanhadas de alagamentos, carros arrastados pelas águas, mais de 30 mil residências sem luz e trens paralisados. Ceilândia, nesta terça-feira, enfrentou problemas semelhantes. Impossível esquecer os episódios ocorridos na região serrana do Rio de Janeiro, em Minas Gerais e na Bahia em 2019, com inundações, deslizamentos e enchentes provocando mortes, destruições e centenas de desabrigados.

Não se tratam de casos isolados — essas mesmas regiões, inclusive, acumulam um histórico de estragos ligados à forma secundária com que gestores lidam com a drenagem urbana das águas pluviais. Em 2017, por meio da Lei nº 11.445, esse processo passou a integrar o conceito de saneamento básico, mas a mudança, como bem indicam os dados atuais, não teve a resposta esperada. 

Nas cidades ainda prevalecem o crescimento desordenado, a impermeabilização do solo e o sucateamento da infraestrutura. Todos esses fatores, ressalta o estudo com base em dados do Sistema Nacional de Informação em Saneamento Básico (Sinisa), contribuem para agravar os impactos das chuvas intensas, sobretudo devido a insuficiência de meios preventivos eficazes.

Faz-se necessário fortalecer o planejamento e novas formas de financiamento para que tragédias evitáveis parem de ocorrer no país. Os severos fenômenos climáticos são realidade e, mais do que nunca, exigem dos governos responsabilidade, educação ambiental, novas formas de pensar e investir nas  cidades, além do monitoramento constante das áreas de risco. 

 


Por Opinião
postado em 24/04/2025 06:00
x