
O mundo se comoveu com a despedida do papa Francisco, líder responsável por promover profundas mudanças na Igreja Católica ao optar por um pontificado afastado do conservadorismo. No entanto, tal postura do sumo pontífice argentino se tornou rapidamente alvo de ataques dentro e fora do Vaticano, sobretudo de líderes mundiais contrários à política agregadora de Jorge Mario Bergoglio.
As polêmicas, como não poderia ser diferente, intensificaram-se nas redes sociais após a morte de Francisco. Apesar disso, sobressai uma avalanche de mensagens que reconhecem o legado do santo padre e declarações, no mínimo, curiosas de críticos ferrenhos do religioso.
Presidente da Argentina, Javier Miley falou em "profunda dor" e "verdadeira honra" ao conhecer Bergoglio, mesmo após atacá-lo com veemência durante sua campanha, chamando-o de "enviado do diabo na Terra".
Em Israel, o ir e vir chamou a atenção. Após o Estado escrever, no X, uma mensagem com "descanse em paz" para Francisco, a postagem foi excluída ao receber uma enxurrada de críticas diante do sangrento conflito sustentado pelo país contra o Hamas na Cisjordânia, pelo qual o papa manifestou seu profundo pesar inúmeras vezes desde a nova escalada em 2023.
A rejeição digital à manifestação de Israel não surpreende. O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criticou o pontífice argentino diversas vezes nos últimos meses pela oposição à guerra. "Vergonhosos", disse o líder de Jerusalém perante o Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset em novembro passado, após o papa chamar os ataques do país em Gaza e no Líbano de "imorais e desproporcionais".
Maior líder conservador da atualidade, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também faz parte do grupo dos que abriram mão das divergências para elogiar Francisco. Ontem, escreveu uma mensagem lamentando a perda do líder católico e o exaltando por "amar o mundo", ainda que, mais de uma vez, tenha criticado o pontífice por se posicionar contrário às políticas migratórias estadunidenses.
Defendido por parte dos governos progressistas, Nicolás Maduro também foi alvo de críticas de Francisco. "Ditaduras não servem e acabam mal", afirmou o pontífice no ano passado — em confluência com o seu passado de resistência contra o governo autoritário na Argentina. Mesmo criticado, o presidente venezuelano homenageou o santo padre ontem, o chamando de "amigo sincero" de Caracas.
As manifestações merecem atenção da comunidade católica, até porque parte desses países abriga comunidades católicas importantes em número de votos. Além, é claro, dos benefícios diplomáticos que circundam tais declarações. A escolha do novo papa, a partir do extenso e rigoroso conclave que aguarda o catolicismo, não deve ser capturada por oportunistas, independentemente do seus espectros político-ideológicos.
O pontificado de Francisco mostra que a Igreja Católica, assim como qualquer outra religião, tem como principal bandeira a união dos povos. É usando as diferenças entre as culturas que se constrói pontes em busca de um mundo mais justo e igualitário.
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