Meio ambiente

Visão do Correio: Pantanal à beira do não retorno

Estudo da WWF-Brasil alerta que o ecossistema mato-grossense pode enfrentar, neste ano, a seca mais severa registrada desde o início dos anos 1970

Corumbà/MS - 24/06/2024 - Apesar das dificuldades, o trabalho dos Bombeiros prossegue no Pantanal. Além do Bracinho, há guarnições em combate próximo à Estrada Parque e outra na região da Maracangalha, fora as que estão a quatro dias no Abobral – onde os focos estão isolados. Também houve combate de focos na Nhecolândia e na cabeceira da ponte sobre o rio Paraguai, na BR-267. Na região do Barranco Branco (Porto Murtinho) e do Forte Coimbra, é realizado atualmente monitoramento por satélite e de equipes por terra, pois são áreas com alerta de flamabilidade. alto.
Corumbà/MS - 24/06/2024 - Apesar das dificuldades, o trabalho dos Bombeiros prossegue no Pantanal. Além do Bracinho, há guarnições em combate próximo à Estrada Parque e outra na região da Maracangalha, fora as que estão a quatro dias no Abobral – onde os focos estão isolados. Também houve combate de focos na Nhecolândia e na cabeceira da ponte sobre o rio Paraguai, na BR-267. Na região do Barranco Branco (Porto Murtinho) e do Forte Coimbra, é realizado atualmente monitoramento por satélite e de equipes por terra, pois são áreas com alerta de flamabilidade. alto. "O Pantanal, mesmo para quem conhece, é um terreno bastante complicado. E ainda temos o agravante da situação de combate aos incêndios", comenta Tatiane Inoue. A Operação Pantanal 2024 completou 80 dias nesta sexta-feira (21), atuando em uma área vasta e com pouco acesso. As condições atmosféricas críticas e extremas, que devem se agravar ainda mais ao longo da temporada de seca, dificultam as ações de combate no bioma.Corumbá está sem registro de chuvas há 71 dias. A última precipitação no município – de acordo com dados do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) – foi no dia 11 de abril. A chuva foi de 27,8 milímetros. Já em 16 de abril houve registro de apenas 7,4 milímetros. Desde então não ocorreu chuvas em toda a região, incluindo Nhumirim (Nhecolândia). Foto: Bruno Rezende/CBMS - (crédito: Bruno Rezende/CBMS)

Um estudo inédito divulgado, ontem, pela WWF-Brasil revela que a seca que assola o Pantanal poderá ser mais severa do que as ocorridas no início dos anos 1970 (40 anos atrás). Essa tendência vem sendo registrada desde o início do monitoramento do Rio Paraguai, que tem apresentado diminuição das cotas mínimas e máximas tanto no período de estiagem quanto de enchente. A conclusão resulta de um mapeamento mensal com base em imagens em alta resolução coletadas pelo satélite Planet, com financiamento da WWF-Japão. O ecossistema mato-grossense está prestes a alcançar o ponto de não retorno, "cada vez mais seco — o que sinaliza o aumento das ameaças à sua biodiversidade, aos seus recursos naturais e ao modo de vida da população pantaneira", sintetiza o documento Alerta precoce para mitigar impactos da seca no Pantanal.

O alerta não é sobre um bioma qualquer. O Pantanal está entre as maiores áreas úmidas do planeta, localizado no centro da América do Sul, entre os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com 138.183 km². Foi reconhecido como Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 e inscrito como Patrimônio Natural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2000.

Entre as intervenções nocivas, está o uso descontrolado do fogo para limpeza de áreas destinadas à agricultura. Desde o início do mês passado, o Pantanal está em chamas. O fogo consumiu mais de 300 mil hectares. A perda de cobertura vegetal tende a bater recorde neste ano. A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e da Mudança Climática, declarou que foram identificados cerca de 18 focos de incêndio em propriedades privadas. A Polícia Federal foi chamada a investigar os autores. "A história de que pode ser raio, descarga de raio, não é (verdadeira). É por ação humana", disse a ministra.

Mantidas as atividades predatórias do ecossistema, com desmatamento nas cabeceiras dos rios das bacias hidrográficas e queimadas, entre outras intervenções humanas hostis à natureza, os impactos não ficam circunscritos ao Pantanal. A população pantaneira será uma das mais afetadas com a perda da biodiversidade e pelo comprometimento da  economia local, nutrida pela agropecuária, extrativismo e pelo turismo. Na sequência, tanto Mato Grosso quanto Mato Grosso do Sul sentirão os efeitos. O estudo da WWF-Brasil sugere algumas medidas para a preservação do Pantanal, que abriga mais de 3 milhões de brasileiros e tem importância inquestionável pela interseção com os demais biomas do país.

A WWF recomenda que haja ações de adaptação às mudanças climáticas, mapeamento das causas que afetam os corpos hídricos, sensibilizar a população sobre a importância de preservar as cabeceiras do Pantanal, conter o desmatamento, restaurar as áreas degradadas e incentivar a adoção de práticas produtivas sustentáveis.

Conter os danos ambientais não é ação exclusiva do poder público. A preservação do patrimônio natural passa também pelo comportamento dos cidadãos. Agredir o meio ambiente, ser indiferente aos benefícios que a natureza oferece à sociedade, não é só ato criminoso, mas uma expressão de indiferença e desprezo ao que todos os humanos têm de mais caro: a vida. 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 04/07/2024 06:00 / atualizado em 04/07/2024 16:07
x