
Milhares de famílias estão tentando fugir da Cidade de Gaza, desde que as Forças Armadas de Israel confirmaram o início das operações em terra, como parte do seu ataque em larga escala para ocupar a cidade.
Lina al-Maghrebi, de 32 anos, é mãe de três crianças e mora no bairro de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza.
Ela declarou à BBC que resistiu a deixar sua casa, mesmo sabendo dos riscos, até receber uma ligação de um militar israelense, ordenando sua evacuação.
"Fui obrigada a vender minhas joias para cobrir os custos do deslocamento e uma tenda", segundo ela.
"Levamos 10 horas para chegar a Khan Younis [no sul da Faixa de Gaza] e pagamos 3,5 mil shekels [cerca de US$ 1 mil ou R$ 5,3 mil] pela viagem. A fila de carros e caminhões parecia interminável."
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que foi lançada uma "operação poderosa" na Cidade de Gaza, descrita por ele como o último reduto importante do Hamas.
As Forças Armadas israelense designaram a estrada costeira de al-Rashid como o único caminho permitido para evacuação dos civis.
Muitos descreveram forte congestionamento, filas intermináveis de carros e caminhões e longos atrasos. Famílias ficaram paradas no acostamento, enquanto os ataques aéreos continuavam sobre suas cabeças.
A operação recebeu condenação internacional generalizada, incluindo do chefe de Direitos Humanos da ONU e do ministro alemão de Relações Exteriores.
A ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Yvette Cooper, chamou a ofensiva de "terrível e totalmente inconsequente". Ela destacou que a ação "só traria mais derramamento de sangue, matando mais civis inocentes e colocando em risco os reféns restantes".
Mas o secretário de Estado americano Marco Rubio pareceu oferecer apoio tácito à operação de Israel, durante uma entrevista coletiva com Netanyahu na segunda-feira (15/9).
Ele declarou que os Estados Unidos prefeririam um final negociado para a guerra, mas, "às vezes, quando você lida com um grupo de selvagens como o Hamas, isso não é possível".
O aumento da ofensiva de Israel vem no momento em que uma comissão de investigação das Nações Unidas publicou um relatório, na terça-feira (16/9), afirmando que Israel comete genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza. Os israelenses rejeitaram categoricamente a acusação.

Nivin Imad al-Din, de 38 anos, é mãe de cinco filhos. Ela conta que fugiu para o sul da Faixa de Gaza, depois que aviões militares de Israel lançaram folhetos sobre a evacuação no seu bairro. Mas seu marido se recusou a sair de casa.
"Não consegui trazer minha mobília, porque não consegui pagar o custo de um caminhão grande", explicou ela. "Deixar tudo para trás foi a decisão mais difícil que já tomei."
O custo do deslocamento disparou muito além do alcance da maioria das famílias.
Os moradores afirmam que o aluguel de um pequeno caminhão, agora, custa cerca de 3 mil shekels (US$ 860, cerca de R$ 4,6 mil). Já uma tenda para cinco pessoas está sendo vendida por cerca de 4 mil shekels (US$ 1,15 mil, cerca de R$ 6,1 mil).
Com a maioria das famílias sem renda desde o início da guerra, algumas foram obrigadas a andar por quilômetros ou permanecer em casa, apesar dos riscos.
Na noite de segunda para terça-feira, aviões militares israelenses realizaram uma onda de fortes ataques aéreos em toda a Cidade de Gaza. Houve bombardeios concentrados no bairro central de al-Daraj, no campo de refugiados Beach a oeste e em Sheikh Radwan, ao norte.
Os ataques foram acompanhados de fogo de artilharia e disparos por drones e helicópteros.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) afirmaram que estão se movendo "gradualmente" para a Cidade de Gaza, como parte da "próxima fase" da ofensiva.
A organização declarou que forças aéreas e terrestres participariam desta nova fase da operação militar e o número de soldados aumenta dia após dia.
Moradores descreveram os ataques noturnos como um "inferno".
Ghazi al-Aloul, morador deslocado do norte de Gaza, contou à BBC que, agora, ele dorme na entrada do hospital al-Quds Hospital em Tel al-Hawa, no sudoeste de Gaza.
"Não escolhi isso", segundo ele. "Fui obrigado, depois de deixar a casa onde minha família e eu nos abrigamos por cerca de um mês, depois de fugirmos para o norte."
"Houve um bombardeio insano por horas e o exército ameaça demolir diversos edifícios residenciais na região."

Sami Abu Dalal, de al-Daraj, na zona central de Gaza, descreveu a noite como "extremamente difícil".
"Blocos residenciais inteiros foram arrasados com seus moradores, deixando muitos mortos, desaparecidos ou feridos", ele conta.
Ele afirma que Israel avança em três frentes e que o avanço foi acompanhado do uso de veículos armados, intensos ataques aéreos e pesados bombardeios. Paralelamente, helicópteros Apache pairavam sobre diferentes partes da cidade, disparando continuamente.
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