HISTÓRIA

As tatuagens de 2,5 mil anos encontradas em múmia congelada

A mulher, morta com cerca de 50 anos de idade, foi enterrada em uma caverna de gelo na Sibéria e descoberta milênios depois. Agora, imagens em alta resolução revelam detalhes das suas tatuagens, antes invisíveis a olho nu.

Ilustração da tatuagem encontrada no antebraço direito da mulher, revelada em novas varreduras -  (crédito: Daniel Riday)
Ilustração da tatuagem encontrada no antebraço direito da mulher, revelada em novas varreduras - (crédito: Daniel Riday)

Imagens de alta resolução de tatuagens encontradas em uma "múmia de gelo" de 2,5 mil anos na Sibéria (Rússia) revelaram decorações que um tatuador moderno teria dificuldades para produzir, segundo pesquisadores.

As intricadas tatuagens no corpo da mulher mostram leopardos, um veado, um galo e uma criatura lendária, metade leão e metade águia. Elas são o testemunho de uma antiga cultura guerreira.

Os arqueólogos trabalharam com um tatuador, que reproduz antigas decorações da pele no seu próprio corpo, para compreender exatamente como elas foram produzidas.

A mulher tatuada tinha cerca de 50 anos de idade. Ela pertencia ao povo nômade pazyryk, que cavalgava pelas vastas estepes que ligam a China à Europa.

Ilustração em preto e branco das tatuagens sobre o antebraço direito da mulher. Ela mostra dois tigres e um leopardo, cercando um veado com chifres e aparentemente asas.
Daniel Riday
Ilustração da tatuagem encontrada no antebraço direito da mulher, revelada em novas varreduras

As varreduras revelaram tatuagens "intricadas, nítidas e uniformes", invisíveis a olho nu.

"As imagens realmente deixam claro para mim como essas pessoas eram sofisticadas", declarou à BBC o escritor Gino Caspari, do Instituto Max Planck de Geoantropologia e da Universidade de Berna, na Suíça.

É difícil encontrar informações detalhadas sobre as práticas socioculturais antigas, pois a maior parte das evidências é destruída ao longo do tempo. E é ainda mais difícil chegar perto dos detalhes da vida de uma pessoa.

As múmias pazyryk foram encontradas no século 19, no interior de túmulos de gelo nas montanhas Altai, na Sibéria. Mas era difícil ver as tatuagens.

Desenho em preto e branco da tatuagem no antebraço esquerdo da mulher. Ela mostra um grande veado com chifres e uma criatura metade leão, metade águia, atacando o veado.
Daniel Riday
Ilustração da tatuagem no antebraço esquerdo da mulher

Agora, utilizando fotografia digital de infravermelho próximo, no Museu Hermitage em São Petersburgo, na Rússia, especialistas criaram, pela primeira vez, imagens em alta resolução das decorações da pele.

"Isso me fez sentir que estamos muito mais próximos de ver as pessoas por trás da arte, como elas trabalhavam e aprendiam", explica Caspari. "As imagens ganharam vida."

No antebraço direito, a mulher pazyryk tinha uma imagem de leopardos em torno da cabeça de um veado.

Rebanho de ovelhas pastando em um vale verde, com as montanhas Altai nevadas ao fundo. O céu é azul com algumas nuvens.
Getty Images
Os pazyryk eram um grupo nômade que vivia nas montanhas Altai, na Sibéria

No braço esquerdo, o grifo lendário, com corpo de leão e cabeça e asas de águia, parece estar lutando contra um veado.

"Corpos entrelaçados e cenas de batalha muito intensas com animais selvagens são típicas desta cultura", explica Caspari. Mas a mulher também tinha um galo no polegar, o que demonstra "um estilo fascinante e uma certa singularidade".

Sua equipe trabalhou com o pesquisador Daniel Riday, que reproduz desenhos de tatuagens antigas no seu corpo, usando métodos históricos.

Pele nua com setas tatuadas em azul e preto, algumas preenchidas. Duas mãos com luvas de látex estão sobre a pele. Em uma das mãos, uma agulha de tatuagem está posicionada para uso.
Daniel Riday
Daniel Riday usa métodos anteriores à eletricidade para tatuar decorações antigas na própria pele

Sua percepção das imagens o levou a concluir que a qualidade do trabalho era diferente em cada um dos braços. Isso indica que pessoas diferentes fizeram as tatuagens ou que houve erros na sua elaboração.

"Imagino que, provavelmente, foram necessárias quatro horas e meia para a metade inferior do braço direito e mais cinco horas para a parte superior", explica ele.

"Este é um compromisso sólido da pessoa. Imagine ficar sentado no chão da estepe, onde o vento sopra todo o tempo."

"Ela precisaria ser realizada por uma pessoa conhecedora de saúde e segurança, que sabe os riscos do que acontece quando a pele é perfurada", destaca Riday.

Três imagens de alta resolução do corpo da mulher, com tons de púrpura. Elas mostram partes da pele e da tatuagem da mulher, com linhas através da pele que formam a tatuagem. Existem marcas diferentes feitas por diversas ferramentas.
BBC

Analisando as marcas no corpo da mulher, a equipe acredita que as tatuagens provavelmente foram estampadas sobre a pele antes de serem tatuadas.

Eles acham que foi empregada uma ferramenta em forma de agulha, com diversas pontas pequenas, provavelmente feita de chifre ou osso animal, além de uma agulha de uma ponta só. Os pigmentos provavelmente eram feitos de material vegetal queimado ou fuligem.

Caspari não tem tatuagens. Ele destaca que este trabalho exemplifica uma prática antiga que é muito importante para muitas pessoas hoje em dia.

Ilustração em preto e branco das tatuagens encontradas nos dedos da mulher. Uma imagem é um galo, com cauda plumada, pescoço esticado e bico. Existem duas outras imagens abaixo da ave com extremidades arredondadas, parecidas com setas.
Daniel Riday
Ilustração da tatuagem encontrada nos dedos da mulher

"E, naquela época, esta já era uma prática muito profissional", explica ele. "As pessoas dedicavam tempo, esforço e prática para a criação dessas imagens, que são extremamente sofisticadas."

Algumas das tatuagens parecem ter sido cortadas ou danificadas durante a preparação do corpo para o sepultamento.

"Isso sugere que as tatuagens realmente eram para os vivos, com significado durante a vida, mas, na verdade, não tinham muita importância após a morte", segundo Caspari.

As descobertas foram publicadas na revista Antiquity.

Duas imagens 3D da múmia de gelo, mostrando um esqueleto com as mãos cruzadas e os pés estirados
M. Vavulin
Diversas múmias de gelo foram encontradas nas montanhas Altai e se encontram atualmente no Museu Hermitage, na Rússia

BBC
Georgina Rannard - Repórter de ciências
postado em 31/07/2025 19:15 / atualizado em 31/07/2025 19:19
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