
Vinte e dois anos depois da explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS) no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, que deixou 21 mortos — a maior tragédia do Programa Espacial Brasileiro —, a Aeronáutica se prepara para colocar o Brasil no restrito e disputado mercado global de voos espaciais. A empresa Innospace, uma startup da Coreia do Sul, marcou, para o próximo dia 22, às 15h, o lançamento do Hanbit-Nano, um foguete de dois estágios, 21,9 metros de comprimento e 20 toneladas de peso total, com capacidade para transportar até 90kg de carga útil.
O lançamento está cercado de muita expectativa, não apenas por marcar o início das operações comerciais da base de Alcântara. O foguete é um produto novo da indústria sul-coreana, e que fará sua estreia no Brasil. O objetivo da empresa é pôr em órbita da Terra cinco pequenos satélites — quatro do Brasil e um da Índia — e levar alguns experimentos científicos para teste em ambiente de microgravidade. Cerca de 400 profissionais ligados à Força Aérea Brasileira — 300 militares e 100 civis — e 60 especialistas da Coreia do Sul estão na cidade maranhense para acompanhar a etapa final do projeto.
O contrato com a Innospace foi fechado em 2022, dois anos após um chamamento público da Agência Espacial Brasileira (AEB) que abriu a base de Alcântara como opção para operações comerciais de empresas públicas e privadas do mundo todo.
Segundo o acordo mestre firmado com a AEB, o custo para mandar 1kg de carga ao espaço pelo Hanbit-Nano gira em torno de US$ 33 mil (cerca de R$ 180 mil). O Brasil contratou o transporte de 15kg, ao preço total de US$ 495 mil (cerca de R$ 2,7 milhões pelo câmbio atual).
A Operação Spaceward, como foi batizada, "simboliza a entrada definitiva do país no mercado global de lançamentos espaciais", disse o diretor-geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), tenente-brigadeiro do ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert. "Essa evolução inaugura um círculo virtuoso para o Programa Espacial Brasileiro. Lançar um veículo estrangeiro aqui no Brasil mostra ao mundo que nós temos infraestrutura, conhecimento e autonomia para operar em um dos segmentos mais estratégicos da atualidade", declarou.
"Garrafa" no espaço
Com mais de 20 metros de comprimento (uma altura correspondente a um edifício de sete andares), o foguete sul-coreano tem dois estágios e propulsão híbrida, por usar uma mistura de combustível sólido (parafina) com líquido (oxigênio), podendo atingir até 500km de altitude. Na bagagem, oito "cargas", incluindo dois pequenos satélites desenvolvidos por estudantes da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e dois de responsabilidade da AEB em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, além de um equipamento indiano.
Segundo a UFMA, um desses equipamentos levará ao espaço uma espécie de "garrafa ao mar", que será posta em órbita com mensagens de alunos da rede pública de Alcântara. "Essa missão demonstra como ciência, cultura e educação podem caminhar juntas, conectando tecnologias estratégicas às comunidades tradicionais. Ver jovens de Alcântara participando diretamente da integração do satélite é um marco histórico", comemorou o professor da universidade e vice-coordenador do projeto, Alex Oliveira Barradas Filho.
