O papa de todas as fés

No Brasil, Casas de Francisco e Clara praticam a Economia de Francisco

Fruto do diálogo do papa com economistas e empresários do mundo inteiro, os espaços são uma iniciativa do movimento no Brasil. No DF, está na comunidade do Sol Nascente

 A cozinha comunitária é uma das atividades da Casa de Francisco e Clara no Sol Nascente -  (crédito:  Minervino Júnior/CB)
A cozinha comunitária é uma das atividades da Casa de Francisco e Clara no Sol Nascente - (crédito: Minervino Júnior/CB)

A comunidade de Sol Nascente, em Brasília, abriga uma das Casas de Francisco e Clara, projeto criado pela Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (Abefc), organização inspirada pelo movimento global Economy Of Francesco (EoF). Presente em 20 países, o nome do movimento repete o título da carta publicada pelo pala em 2019, em que convocou jovens economistas e empresários a “realmar a economia”.

A mensagem do papa foi publicada no dia 1º de maio de 2019. Embora não haja uma referência explicita ao Dia do Trabalhador, a data de publicação da carta já sinaliza os princípios propostos. Outro fato simbólico é que, na carta, o papa faz o convite para um grande encontro a realizar-se em março de 2020 (adiado para 2022, pela pandemia de covid-19) na cidade de Assis.

“Há três elementos no contexto dessa mensagem que não podem ser desconsiderados. A escolha da data, a escolha do local do encontro e o nome dado ao evento”, diz o economista Guilherme Delgado, em referência a Francisco de Assis, o homem rico que escolheu se despir de tudo e abraçar a pobreza. Delgado observa também que o fato de o papa ter adotado o nome do santo permite inferir que a economia de Francisco se aplica ao século 12, quando viveu o santo e também aos dias atuais.

No Brasil, o movimento incluiu o nome de Santa Clara, contemporânea do santo e que exerceu forte influência no modo de viver franciscano. “Economia de Francisco e Clara não é uma teoria econômica, mas é um chamado a olhar para a economia e observar o que a gente esqueceu no caminho do desenvolvimento econômico do século passado para cá”, afirma o sociólogo Eduardo Brasileiro, um dos articuladores do coletivo no Brasil.

“Atuar na Casa de Francisco e Clara é uma vivência profundamente humana e transformadora. A inspiração em São Francisco e Santa Clara na construção de uma sociedade mais justa e digna para todos e todas é mais do que uma ideia ou conceito, mas um conjunto de ações práticas locais que fortalecem os territórios e têm centralidade nas pessoas, especialmente, as mais vulneráveis”, completa Juliana Souza, articuladora nacional das Casas de Francisco.

Conforme explica Brasileiro, nos espaços são implementadas atividades a partir da realidade vivida por cada comunidade. Existem, por exemplo, hortas comunitárias, cozinhas solidárias, com distribuição diária de refeições. No sertão, há construção de painéis solares. Trabalha-se, ainda, a empregabilidade dos grupos vulneráveis, são realizadas feiras de produtos da economia solidária, rodas de conversa entre pequenos empreendedores e formações em diversas áreas.

“As casas são espaços vivos e dinâmicos, que se mobilizam para responder aos problemas que, juntos, identificam nas suas comunidades”, descreve o sociólogo. As iniciativas são dezenas e espontâneas, por isso, a Abefc não conseguiu catalogar a todas. Entre as que estão estruturadas e em funcionamento efetivo e constante, ele cita, além da experiência de Brasília, as Casas Amazônica, em Manaus, Indígena, em Barra Grande na Bahia, Baixada Santista, em SP; Campinas em SP; PUC Paraná, em Curitiba; Florianópolis, em SC; Canoas no RS; São Leopoldo e Viamão, no RS; Campina Grande e Várzea, na PB e Belo Horizonte/MG.

Formação Acadêmica

Na carta de 2019, Francisco expressa que a sua intenção é formar futuros profissionais e empresários capazes de cultivar e disseminar a nova economia. Por isso, há, também, a preocupação como a formação acadêmica. Por meio do EoF Academy, que oferecer atividades educacionais e bolsas de estudo em mestrado, doutorado e pós-doutorado.

A metodologia da Economia de Francisco e Clara tem como base a “cultura do encontro”, criada por Francisco, que tem sido disseminada pela fundação pontifícia Scholas Occurrentes, criada por ele em 2015 e presente em 190 países. A fundação realiza e apoia atividades relacionadas à economia de Francisco. Foi em um evento da Scholas Occurrentes que o papa se encontrou com o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, dias após a divulgação da mensagem dirigida “aos jovens economistas, empresários e empresárias do mundo” sobre uma nova economia. Naquele encontro, ambos concordaram em fazer chegar aos diversos ambientes sociais, acadêmicos e políticos, o apelo por uma economia humana.

Cultura do Encontro na prática

No Distrito Federal a Económia de Francisco e Clara, atuam no território Sol Nascente trecho 03, em parceria com o Coletivo Mulheres do Sol, juntamente com outras parcerias naquele espaço.

O Coletivo Mulheres do Sol conta com uma cozinha solidária que fornece aproximadamente 460 marmitas por semana e uma horta comunitária. “A horta é produzida pelas mulheres, que plantam, cuidam e colhem. Mas, na medida em que há excessos, como acontece muitas vezes, todas as famílias da comunidade recebem alimentos”, conta a religiosa.

OColetivo também promove inclusão digital e mutirão para organização popular por meio de incidência política, convergência de movimentos populares. “De manhã e à tarde temos um número grande de crianças, aulas de violão para iniciante, espaço compartilhado, criado para as atividades comunitárias. Como a gente cede o espaço para campanhas de vacinação, com o Cras, temos também ações de conscientização e temas diversos”, explica irmã Marly.

No coletivo Mulheres do Sol a Casa de Francisco e Clara atua por intermédio de rodas de conversa, o movimento promove a formação das pessoas, utilizando como subsídios materiais produzidos pela Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (Abefc), como a revista Casa Comum, inspirada no documento “Laudato Si”, que fala do “cuidado com a casa comum”. Segundo a ABFC, na Casa de Francisco e Clara, o termo “casa” abraça a dimensão do cuidado e da construção coletiva, do acolhimento e da pertença, “favorecendo a cultura do encontro, da mística e libertadora, a escuta da realidade, a troca de experiências inovadoras, acolhida das crianças, adolescentes e juventudes, dos empobrecidos, sendo referência para a comunidade local como espaço fraterno de transformação”. Um dos projetos que Econômica de Francisco e Clara, será reforçar a cozinha Popular Solidária com cursos de panificação, culinárias e outros na linha da alimentação

 

Por Edla Lula
postado em 27/04/2025 04:04 / atualizado em 27/04/2025 19:03
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