
A subsecretária de Turismo do Chile, Verónica Pardo, chegou à redação do Correio animada com a recepção dos brasileiros. "Conheci uma Brasília para além dos ministérios, é uma cidade viva", comentou a titular da pasta, equivalente a um Ministério do Turismo chileno. Verónica cumpre agenda no Brasil ao lado do presidente do Chile, Gabriel Boric, que está em visita oficial desde a última terça-feira.
Verônica Pardo firmou uma série de parcerias em reuniões com o Ministério do Turismo e a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur). Essas cooperações, na avaliação da ministra, envolvem ações e estratégias para fortalecer a circulação de turistas brasileiros no Chile.
Efervescência pode ser o termo utilizado para definir o estado da circulação de turistas brasileiros que foram ao país andino no ano passado. Segundo dados apresentados pelo presidente chileno Gabriel Boric, o Brasil enviou 787.096 viajantes ao Chile no ano passado, número bem maior do que os 485.933 computados em 2023.
Esse dado, para a ministra chilena, demonstra o interesse do público brasileiro em se conectar com a cultura chilena. "O brasileiro gosta do chileno e os chilenos gostam dos brasileiros", confessou. Na entrevista ao Correio, ela contou que a ideia é aumentar a quantidade de turistas brasileiros e atrair visitantes para conhecer regiões como o Atacama e a Patagônia. Confira a entrevista completa com a subsecretária do Turismo do Chile, Verónica Pardo:
Quase 800 mil brasileiros foram para o Chile no ano passado. Como o governo chileno interpreta esse dado?
Vemos isso como o início de uma relação profunda que devemos ter. Apesar de não termos fronteira terrestre direta para trocas culturais, podemos nos reconhecer muito mais no turismo. O brasileiro gosta do chileno e os chilenos gostam dos brasileiros. Tivemos quase 800 mil brasileiros no Chile em 2024 e 653,8 mil turistas chilenos visitaram o Brasil no mesmo período. A relação cultural entre Chile e Brasil é muito rica e deve ser potencializada.
Qual o perfil desse turista brasileiro que visita o Chile?
O turista brasileiro fica, em média, entre sete e oito dias no Chile. O perfil dos visitantes brasileiros é bem variado. Mas é possível notar uma maior presença de casais, entre 25 e 60 anos. Além de turistas desse perfil e dessa faixa etária, também é possível notar a ida de brasileiros sozinhos ao Chile, seja para turismo de negócios, ou para estudos e congressos.
Que local do Chile os brasileiros mais visitam?
O turista brasileiro visita mais a região da capital, Santiago, e cidades próximas, como Viña del Mar e Valparaíso. Essa é a viagem do centro para a região litorânea. Os brasileiros visitam principalmente o Centro-Sul do país, região onde concentram-se boa parte de nossas vinícolas. Notamos que os brasileiros gostam muito da nossa gastronomia, do nosso vinho, de conhecer as culturas locais e a ruralidade.
O vinho chileno é um primeiro contato para muitos brasileiros, certo?
Sem dúvida. Temos mais de 380 vinhedos abertos para enoturismo, com diferentes vales e cepas. A temporada de vindimas (final de fevereiro a maio) é uma experiência maravilhosa e convido todos os turistas para conhecerem porque vale muito a pena.
Apesar desse número alto, parece que o Chile quer mostrar ainda mais para o brasileiro. Quais pontos do país merecem a presença de visitantes brasileiros?
Quando se pensa no Chile, geralmente o brasileiro fala em desfrutar dos nossos vinhos e ir para a neve, no inverno. Isso é maravilhoso, mas o Chile é muito maior, o Chile tem uma vasta diversidade geográfica que é impressionante. Queremos mostrar que em apenas 4 horas de voo (4h50 saindo de Brasília para Santiago), é possível vivenciar experiências incríveis, como o deserto do Atacama, fiordes e a Ilha de Páscoa. Também vale a pena o turista brasileiro ir ao extremo sul com a Antártica chilena para ver baleias e pinguins. No Norte, também vale muito a pena fazer o astroturismo — observação dos astros — e muito mais. Essas são experiências transformadoras.
Fale mais sobre o astroturismo...
Uma experiência incrível no norte do Chile. Os céus são muito limpos a maior parte do ano, permitindo olhar as estrelas de forma fantástica. 50% da capacidade astronômica do planeta está no Chile.
E a questão da língua? O brasileiro teria dificuldades para se comunicar em regiões mais afastadas de Santiago, como a região do Atacama ou na Antártica Chilena?
Absolutamente não! Além de a língua portuguesa e o espanhol serem muito próximos e facilitarem a comunicação entre brasileiros e chilenos, a tecnologia pode ajudar os turistas brasileiros na comunicação no Chile. Hoje, com a tecnologia e a inteligência artificial nos celulares, é muito fácil se comunicar.
A senhora esteve no Ministério do Turismo e na Embratur. O que ficou decidido nessas reuniões?
Traçamos as linhas de ações mais prováveis de seguir avançando no turismo entre Brasil e Chile. Uma delas é avançar em fazer um olhar conjunto nos dados de turismo para entender o perfil dos turistas brasileiros e chilenos, e assim direcionar a promoção de forma mais eficaz e identificar novas oportunidades. Outra linha será explorar novas rotas aéreas entre Brasil e Chile, aproveitando a ideia da futura rota interoceânica anunciada pelos presidentes Gabriel Boric e Lula. Outra proposta discutida foi uma nova lei de turismo no Chile, que pode entrar em vigor no mês de maio e prevê um desconto de 15% no imposto de consumo (IVA) chileno para turistas estrangeiros em compras de produtos, eventos/congressos e produções audiovisuais. Isso pode beneficiar turistas brasileiros que vão ao Chile para comprar produtos.