LITERATURA

Ana Maria Gonçalves toma posse na ABL e se torna a primeira negra imortal

Em um discurso comovente e contundente, celebrou sua chegada à Casa de Machado de Assis e dedicou o momento à memória dos que vieram antes

Ana Maria Gonçalves toma posse na ABL e se torna a primeira mulher negra imortal
 -  (crédito: Academia Brasileira de Letras/Reprodução)
Ana Maria Gonçalves toma posse na ABL e se torna a primeira mulher negra imortal - (crédito: Academia Brasileira de Letras/Reprodução)

A escritora mineira Ana Maria Gonçalves tomou posse como a primeira mulher negra a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), na noite desta sexta-feira (7/11). A cerimônia ocorreu no tradicional Petit Trianon, no Centro do Rio de Janeiro. Ela ocupará a cadeira de número 33, antes do gramático Evanildo Bechara, que morreu em maio. Aos 55 anos, ela é a eleita mais jovem da academia.

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Ana Maria recebeu o diploma das mãos de Gilberto Gil e o colar acadêmico entregue pela também acadêmica Ana Maria Machado. A cerimônia de posse uniu gerações de artistas e intelectuais comprometidos com a diversidade e a cultura brasileira. Em seu discurso, a nova imortal evocou a ancestralidade, agradeceu às mulheres negras que abriram caminhos e destacou a responsabilidade de ocupar um espaço que, por muito tempo, excluiu vozes como a dela.

"Cá sou eu hoje, 128 anos depois de sua fundação, como a primeira escritora negra eleita para a Academia Brasileira de Letras, falando pretoguês e escrevendo a partir de noções de oralitura e escrevivência. E assumo para mim como uma uma das missões: promover a diversidade nessa casa e fazer avançar as coisas nas quais nela eu sempre critiquei, como a falta de diversidade na composição de seus membros, uma abertura maior para o público e o maior empenho na divulgação e na promoção da literatura brasileira", afirmou, emocionada.

  • Ana Maria recebeu o diploma das mãos de Gilberto Gil e o colar acadêmico entregue pela também acadêmica Ana Maria Machado
    Ana Maria recebeu o diploma das mãos de Gilberto Gil e o colar acadêmico entregue pela também acadêmica Ana Maria Machado Academia Brasileira de Letras/Reprodução
  • A cerimônia reuniu intelectuais, artistas e autoridades. A comissão de entrada foi formada por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Miriam Leitão.
    A cerimônia reuniu intelectuais, artistas e autoridades. A comissão de entrada foi formada por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Miriam Leitão. Academia Brasileira de Letras/Reprodução
  • Ana Maria Gonçalves é reconhecida especialmente pelo livro Um Defeito de Cor. A obra narra, em 952 páginas, a história de Kehinde, uma mulher africana que atravessa o século 19 buscando reencontrar o filho
    Ana Maria Gonçalves é reconhecida especialmente pelo livro Um Defeito de Cor. A obra narra, em 952 páginas, a história de Kehinde, uma mulher africana que atravessa o século 19 buscando reencontrar o filho Academia Brasileira de Letras/Reprodução

Ana Maria Gonçalves é reconhecida especialmente pelo livro Um Defeito de Cor. A obra narra, em 952 páginas, a história de Kehinde, uma mulher africana que atravessa o século 19 buscando reencontrar o filho. Além de escritora, Ana Maria Gonçalves é roteirista, dramaturga e professora. A nova acadêmica reforçou o significado de sua presença para a renovação da ABL.

A cerimônia reuniu intelectuais, artistas e autoridades. A comissão de entrada foi formada por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Miriam Leitão. O fardão usado por Ana Maria foi confeccionado por integrantes da escola de samba Portela, uma escolha carregada de simbolismo para representar a cultura popular que pulsa fora dos muros da Academia.

O discurso de abertura da cerimônia foi feito pela imortal Lilia Schwarcz. A historiadora e antropóloga destacou a posse e a obra de Ana Maria no contexto de violência contra as pessoas negras. "Nunca o livro de Ana foi tão atual como nos dias de hoje com as chacinas nos complexos do Alemão e da Penha. Kehinde é uma mãe que viu um filho morrer e outro desaparecer. Simbolicamente, ela é mais uma das muitas mães brasileiras enlutadas que seguem lutando".

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“As mães que hoje choram seus filhos nas favelas do Rio são ecos das mulheres que, no tempo da escravidão, também perderam os seus. Ana Maria traz essas vozes para dentro da literatura e, agora, para dentro da Academia”, finalizou a quinta ocupante da cadeira nº 9, eleita em 2024, a imortal Lilia Schwarcz.

Conheça a nova Imortal da ABL

Nascida em Ibiá, Minas Gerais, em 1970, Ana Maria foi publicitária por 15 anos antes de se dedicar à literatura. O reconhecimento veio com Um Defeito de Cor, obra que retrata a trajetória de uma mulher africana escravizada no Brasil e resgata a memória e a resistência do povo negro. O livro se tornou um marco da literatura brasileira contemporânea e consolidou a autora como uma das vozes mais potentes da escrita afro-brasileira.

 

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JA
postado em 08/11/2025 15:13 / atualizado em 08/11/2025 18:03
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