
A série Tremembé, exibida no Prime Video, acompanha a vida de detentos notórios do Brasil na chamada “prisão dos famosos”. Durante os primeiros episódios, Suzane von Richthofen, Alexandre Nardoni, Elize Matsunaga e Anna Carolina Jatobá passam pelo Teste de Rorschach, também conhecido como "teste do borrão". Desde a estreia da série, a busca pelo termo "Teste de Rorschach" cresceu consideravelmente, segundo o Google Trends.
Desenvolvido no início do século XX pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach (1884–1922), o teste utiliza uma série de pranchas com manchas de tinta em preto e branco e coloridas para investigar aspectos da personalidade e do funcionamento emocional. Durante o exame, o participante observa as imagens e descreve o que enxerga nelas. A análise das respostas permite identificar padrões de pensamento e características psicológicas individuais.
No entanto, trata-se de um teste projetivo e impreciso. Segundo o psiquiatra Dr. Raphael Boechat, professor de Medicina do Centro Universitário UNICEPLAC, tal avaliação pode culminar em um falso diagnóstico devido a uma interpretação errônea. “Na psiquiatria, a gente sempre reforça que os testes são ferramentas auxiliares. Nenhum teste fecha diagnóstico de quadro psiquiátrico algum. Eles complementam a avaliação clínica”, destaca.
Algumas versões do Teste de Rorschach estão disponíveis de forma online e autônoma, o que o especialista define como perigoso. “O profissional precisa ser treinado para aplicá-lo, exige um preparo específico. Não é algo que se possa simplesmente seguir uma regra pronta e aplicar”, resume.
No Brasil, o teste é validado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), que orienta que os psicólogos só utilizem as pranchas de Rorschach empregadas nas pesquisas brasileiras e aprovadas pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi).
Ao dar pistas sobre o funcionamento psíquico, questões de cognição, competências sociais e dinâmicas afetivas e emocionais de um indivíduo, o teste atua como um complemento à avaliação clínica. “Não há nada que indique que um teste seja superior à análise clínica; muito pelo contrário. Tenho visto uma enxurrada de resultados falsos. Por isso, os testes precisam ser usados com muita cautela, dentro desse contexto de ferramenta complementar. Esse é o maior problema: disponibilizá-los na internet e permitir que as pessoas tentem fechar diagnósticos ou traçar personalidades com base em algo tão impreciso”, ressalta Boechat.
Originalmente criado apenas para avaliar percepções de pacientes com esquizofrenia, o Teste de Rorschach acabou abrangendo conclusões de personalidade ao longo do tempo. Na psiquiatria e na psicologia, muitos profissionais optam por não utilizá-lo devido às suas limitações. “Ele pode gerar muitos resultados falsos e não tem valor preditivo confiável”, completa o psiquiatra.
Suzane von Richthofen foi diagnosticada com psicopatia?
Durante mais de duas décadas, Suzane von Richthofen recebeu uma série de rótulos que ajudaram a moldar sua imagem pública: “psicopata”, “narcisista”, “fria”, “dissimulada” e “calculista” são alguns dos termos mais recorrentes desde sua condenação, em 2002, pelo assassinato dos próprios pais.
O caso foi reexaminado em Suzane: Assassina e Manipuladora, biografia escrita por Ulisses Campbell que inspirou a recente série sobre sua história. Na obra, o autor traz à tona trechos de relatórios psicológicos com mais de duas mil páginas, resultado de uma análise profunda da mente de Suzane feita por peritos ao longo do processo judicial.
Entre as ferramentas usadas pelos especialistas estava o teste de Rorschach. Segundo Campbell, a postura controladora e estratégica de Suzane teria se manifestado antes mesmo da aplicação do teste: os avaliadores suspeitaram que ela tentou obter acesso prévio às pranchas por meio de um suborno a um psicólogo, numa tentativa de se preparar para o exame.
Apesar da suposta manipulação, os profissionais conseguiram delinear um perfil psicológico detalhado de Suzane, destacando egocentrismo, narcisismo, capacidade de manipulação e imaturidade emocional. Ainda assim, em meio a milhares de páginas de análise, não há qualquer diagnóstico de psicopatia — um contraste marcante com a imagem construída em torno do seu nome ao longo dos anos.

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