
Quem passar pela fachada da Caixa Cultural nos próximos dias vai se deparar com centenas de lambes de rostos. São fotografias de moradores de Brasília, tiradas durante esta semana para o projeto Inside Out, do artista francês JR. O conjunto faz parte da exposição Frequências Urbanas, em cartaz na galeria da instituição e que reúne um grupo de oito artistas cuja produção está, de alguma forma, relacionada com a arte de rua.
JR é o mais conhecido dos artistas selecionados pelo curador Luiz Prado. Autointitulado photograffeur, uma mistura de fotógrafo com artista gráfico, o francês ficou conhecido por criar projetos em larga escala que, instalados nos muros das cidades ou das galerias, dialogam com o contexto urbano e com as pessoas. Todas as obras de JR são feitas com registros de gente em diversas situações e procuram, ao mesmo tempo, mudar a paisagem urbana e propor uma reflexão sobre situações que podem ir da desigualdade, como os projetos sobre os imigrantes, ao simples deleite da contemplação, como as propostas de trompe l'oeil que o artista realizou no Museu do Louvre, na Ópera de Paris e no Rio Sena.
Inside Out é um projeto iniciado em 2011, quando o artista ganhou o Prêmio TED e decidiu investir o dinheiro da premiação em uma ação que desse voz a pessoas do mundo inteiro. A ideia é que as pessoas emprestem seus retratos para o projeto e compartilhem com o mundo histórias não contadas e causas que defendem. Mais de 400 mil pessoas já participaram em 140 países e o projeto rendeu, inclusive, um documentário. "Inside out é um movimento que dá protagonismo a figuras que não têm visibilidade. É feito de dezenas e centenas de fotografias para que esse tema seja visto. É sobre visibilidade. Por isso, o conjunto tem força", explica Luiz Prado, curador da exposição.
A ação ocorre em várias partes do mundo e, no Brasil, é encabeçada pela Casa Amarela, uma Organização não Governamental que tem JR na lista de criadores e que realiza programas educativos e pedagógicos com as crianças e adolescentes do morro Providência, no Rio de Janeiro. A obra resultante — uma faixa de retratos em formato lambe instalada na lateral do prédio da Caixa Cultural — é efêmera, e deve durar três meses.
No interior da galeria, está um time de artistas selecionado com a ideia de inserir a exposição no circuito cultural que celebra a amizade entre França e Brasil. Luiz Prado também quis fazer uma alusão à outra mostra, realizada há 15 anos, na qual reuniu artistas cuja produção dialogava com as ruas e com a galeria. "É uma releitura de uma exposição que fiz em 2010, quando estava surgindo o movimento de artistas de rua para a galeria, levando essa arte de rua mais vendável para a galeria", conta. "Agora, a ideia é que esse movimento se consolidou nas artes visuais e a gente traz novos expoentes, trazendo essa narrativa identitária, não só indígena e com a ancestralidade africana, mas a narrativa do mundo de hoje dentro deste universo de grupo de artes visuais."
A ideia também é fazer um link com o Ano Cultural Brasil-França 2025, acordo assinado entre os governos dos dois países em 2023 e que promove ações culturais ao longo do ano. Da exposição, participam o francês Rero, o franco-congolês Kouka e o franco-tunisiano El Seed. Entre os brasileiros estão Cripta Djan, Luísa Pimenta e Kassia Borges. O coletivo norte-americano Cyrcle também tem trabalhos expostos.
A ancestralidade dos guerreiros bantus é um dos temas da obra de Kouka, que traz para a galeria uma leitura da espiritualidade desses personagens em obras feitas com materiais orgânicos que falam de uma floresta imaginária. Na obra de El Seed, a caligrafia é usada para chamar a atenção para a diversidade de significados de certas palavras no idioma árabe. Seed assina uma enorme escultura feita a partir da palavra amor.
Formado por uma dupla de artistas, o Cyrcle faz um manifesto pela arte de rua e o paulista Cripta Djan retoma referências da pichação para falar de identidade e periferia. "É uma referência muito brasileira, traz a denúncia, a marcação da periferia em lugares nobres, a presença em locais em que não é possível estar", explica o curador. Luísa Pimenta, que tem 18 anos e é a artista mais jovem da exposição, propõe um olhar sobre questões mais abstratas e psicológicas. "É um grito da adolescência, ela traz essa ansiedade de se fazer escutar", garante Luiz Prado. E Kássia Borges, integrante do coletivo Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), faz um diálogo com a ancestralidade indígena. De origem karajá, ela trabalha com cerâmica e explora a materialidade para além das telas.
Frequências Urbanas - Uma voz única no diálogo coletivo
Curadoria: Luiz Prado. Com Rero, Kouka, EL Seed, Cripta Djan, Luísa Pimenta e Kassia Borges e Cyrcle.
Visitação até 20 de julho, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (Setor Bancário Sul - Quadra 4, Lotes ¾).
Classificação indicativa livre.
Entrada gratuita