
Por Fábio Barcellos* — Da antiga Capital do Brasil, referência turística internacional de nosso país, recebemos a notícia da "Operação mais Letal da história do Rio de Janeiro". As manchetes superlativas, anunciando expressões como "Megaoperação", "2500 policiais", "Complexo de Favelas", "meses de investigação", isso, via de regra, redunda em histórico desfecho de sangue e mortes.
Longe desse cenário de morros e comunidades carentes do Poder Público, estão os políticos, que buscam converter a dor dos enlutados em justificativas, as lágrimas de familiares em senso patriótico de dever cumprido e a pirotecnia de palanques em busca de votos a qualquer preço. Disse o governador do Rio a um jornalista de conceituada emissora: - "quanto mais mortes, mais votos" - lamentável e absurdo comentário.
Dessa anunciada ocorrência, com mais de 100 mortes e esse número ainda pode aumentar, permito-me, enquanto policial civil aposentado, amante de nossa capital e cidadão, reverenciar os quatro colegas policiais que tombaram em serviço no Dia do Servidor Público, ironia sádica do destino, (02 Policiais Militares e 02 Policiais Civis), um dos civis, com apenas 40 dias de serviço, o que é uma absurda irresponsabilidade dos planejadores mandá-lo para tal operação.
Participavam de um confronto, onde os adversários atacavam com fuzis, drones, bombas, munições traçantes, bateria antiaérea e nós policiais, saibam todos, não temos essa estrutura. Todo esse arsenal foi combatido sob o juramento de salvaguardar moradores, mulheres, crianças, em resumo, a vida. Apesar de não catalogada como tal, essa verdadeira guerra vitimiza o profissional policial de forma múltipla, à medida que o Estado lhe nega valorização e condições de trabalho digno, investimentos necessários para exercer sua função com excelência enquanto vivo, defendendo acima de tudo nossa sociedade.
Depois de morto, o policial civil terá mais sofridas as consequências para a família, pois, ao contrário dos militares das Forças Armadas e Militares Estaduais, com a morte do referido policial civil, "salvo a exceção do caso", não é garantida a pensão integral ao cônjuge do policial civil e filhos.
O reparo desse disparate (agravado pela EC 103/2019) não traduz somente a uma necessidade histórica de direitos fundamentais do policial civil, mas essencialmente uma resposta sobre qual modelo de segurança de Estado desejamos? Ou aceitaremos uma polícia de governo, lastreada pelo ganho irresponsável de voto?
Precisamos fortalecer efetivamente nossas instituições de combate ao crime organizado, com mudanças profundas no modelo atual há muito ultrapassado ou deixemos que o Estado permita que as facções se propaguem por todo o país, até tomarem como refém a nossa Capital da República, a Terra da Esperança, que há tempos já é tentada por esses criminosos organizados.
Da sociedade, espera-se consciência e reconhecimento do valor desses homens e mulheres, uma maior cobrança da valorização e investimento nesse profissional. O crime evolui todos os dias e nós? Quanto ao Estado, no tocante àqueles que detêm o Poder, que honrem esses profissionais heróis, pois o sacrifício deles, por vezes extremo, impede que outros filhos diariamente chorem, e isso é fato.
Somos a Capital da República, aqui, o governo Federal, como reza a Constituição, tem o dever de 'organizar e manter' nossa Segurança Pública e, portanto, deve chamar para si essa responsabilidade, dando um exemplo para todo o país, como se faz segurança pública de Estado, para o cidadão e não de Governo, para o político, ou corremos o risco de fracassarmos diante da sociedade que juramos defender.
Presidente da Associação dos Policiais Civis da União no DF*
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