Visão do Direito

Tarifaço, IOF e o custo de brigas alheias

"No fim, enquanto governos se enfrentam em disputas políticas e retaliações, quem arca com o custo imediato são as empresas e trabalhadores brasileiros"

Menndel Macedo, advogado tributarista com mais de 15 anos de experiência na assessoria estratégica a empresas dos mais variados setores econômicos -  (crédito:   Divulgação)
Menndel Macedo, advogado tributarista com mais de 15 anos de experiência na assessoria estratégica a empresas dos mais variados setores econômicos - (crédito: Divulgação)

Por Menndel Macedo* — Um jato fabricado no Brasil e vendido para uma companhia aérea americana vai custar cerca de US$ 9 milhões a mais a partir de 1º de agosto. É o efeito direto da tarifa de 50% que os Estados Unidos vão cobrar sobre qualquer produto brasileiro que desembarcar no país. E não é só a aviação que será atingida: aço, carne, café e petróleo também sentirão o impacto imediato.

Faltam apenas oito dias. Não há mais tempo para antecipar remessas ou evitar o tarifaço com soluções de curto prazo. Exportar para os Estados Unidos vai custar mais caro daqui para frente. E o quadro fica pior com o aumento do IOF, confirmado pelo STF, que eleva o custo do crédito e diminui ainda mais o fôlego financeiro das empresas. O exportador brasileiro está pressionado, pagando mais para produzir e mais para vender.

O drawback, que zera impostos sobre insumos usados na exportação, pode aliviar parte da carga. Financiamentos em dólar escapam do novo IOF e ajudam a proteger o caixa. México e Canadá surgem como alternativas reais, especialmente com ajustes logísticos via Panamá.

Essa reorganização não se limita à indústria. O agronegócio também precisa agir. Contratos antecipados com tradings e trocas de insumos por grãos ajudam a garantir liquidez. Na aviação, há quem considere concluir a montagem final das aeronaves nos Estados Unidos para reclassificá-las como “made in USA” e escapar da tarifa. Mas estamos prontos para abrir mão do nosso selo de fabricante e entregar à indústria americana o mérito por produtos que saíram quase prontos daqui? Seria mais um golpe no orgulho nacional, de um país que já não é mais reconhecido nem pelo futebol.

Essa lógica de adaptação também alcança o setor digital, onde empresas de software e tecnologia precisam rever contratos internacionais, reorganizar pagamentos entre filiais, ajustar prazos e valores para escapar do IOF e evitar custos extras com remessas. São medidas que aliviam o impacto imediato, mas que obrigam a abrir mão de flexibilidade e margem, sem tocar na raiz do problema.

No fim, enquanto governos se enfrentam em disputas políticas e retaliações, quem arca com o custo imediato são as empresas e trabalhadores brasileiros. O tarifaço e o aumento do IOF mostram que as consequências chegam antes das soluções e que as guerras comerciais e fiscais acabam sempre sendo pagas por quem produz, emprega e exporta. Se os governos não entenderem isso logo, a conta seguirá alta e cairá sempre no colo do brasileiro.

Advogado tributarista e sócio-fundador do escritório Menndel & Melo Advocacia*

 

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Por Opinião
postado em 24/07/2025 04:30
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