
James Dewey Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA, morreu na quinta-feira (6/11), aos 97 anos, em Nova York. A morte foi divulgada nessa sexta-feira (7/11) pelo Laboratório Cold Spring Harbor e confirmada por um dos filhos do cientista, Duncan James. Ele contou que o pai estava em uma casa de cuidados paliativos. O trabalho de Watson, desenvolvido ao lado de Francis Crick e Maurice Wilkins, garantiu ao trio o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 1962. A genialidade incontestável de Watson, no entanto, acabaria arranhada décadas mais tarde após uma série de declarações racistas e sexistas do norte-americano.
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Nascido em 6 de abril de 1928, em Chicago, Watson demonstrou talento precoce para os estudos. Ingressou na Universidade de Chicago aos 15 e concluiu o doutorado em zoologia na Universidade de Indiana, em 1950, sob a orientação do famoso microbiólogo Salvador Luria. Desde então, seu interesse se voltou para o DNA — um tema que, na época, ainda era um mistério.
Em 1951, o jovem pesquisador foi trabalhar no Cavendish Laboratory, em Cambridge, na Inglaterra. Foi ali que conheceu Francis Crick, com quem formou uma parceria que mudaria a ciência. Enquanto muitos pesquisadores tentavam desvendar a estrutura do DNA sem sucesso, Watson e Crick combinaram conhecimentos da biologia e da física para resolver o quebra-cabeça. O passo decisivo veio com os dados obtidos a partir de imagens de raios-x produzidas por Rosalind Franklin, do King's College London, cuja famosa "Fotografia 51" revelou detalhes cruciais da molécula.
Em 1953, Watson e Crick publicaram na revista Nature e apresentaram ao mundo o modelo da dupla hélice do DNA, duas fitas entrelaçadas e unidas por pares de bases complementares. Com essa estrutura foi possível detalhar como o material genético é copiado e transmitido entre gerações, abrindo caminhos para a engenharia genética.
O reconhecimento veio em 1962, quando Watson, Crick e Maurice Wilkins receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. Rosalind Franklin, cuja contribuição foi fundamental, morreu quatro anos antes. À época da premiação, Watson, com 34 anos, se tornou uma celebridade no mundo científico e símbolo da nova era da genética.
Conforme Renata Sandoval, a partir da estrutura sugerida pelos laureados, foi possível explicar como ocorre a replicação do DNA. "Isso é fundamental tanto do ponto de vista da herança — as informações que recebemos dos nossos pais — quanto dos processos que ocorrem ao longo da nossa vida, como a replicação das células. Esse mecanismo foi a base para o entendimento tanto das alterações genéticas herdadas quanto das adquiridas. Acho que esse seria o conceito mais amplo e mais importante para compreender as implicações desse conhecimento na medicina atual."
Polêmicas
Durante as décadas seguintes, ele seguiu uma carreira acadêmica de prestígio, se tornou diretor do Cold Spring Harbor Laboratory, em Nova York, e liderou as discussões iniciais do Projeto Genoma Humano. Em 2007, em uma entrevista ao The Sunday Times, Watson afirmou que era "inquietante" acreditar que as políticas de ajuda à África pudessem funcionar, porque, segundo ele, "as pessoas negras não têm a mesma inteligência que as brancas".
Ele disse ainda que "todas as provas apontam para o fato de que a inteligência não é igual entre as diferentes populações". A repercussão foi imediata: universidades e instituições científicas repudiaram as falas, e Watson foi afastado de suas funções no Cold Spring Harbor Laboratory, onde era diretor emérito.
Embora tenha se desculpado no ano seguinte e alegado ter sido mal interpretado, em 2019, Watson reacendeu a polêmica ao reafirmar suas crenças no documentário American Masters: Decoding Watson, da PBS. "Gostaria que fosse diferente, mas a diferença média de QI entre negros e brancos é genética", declarou. O Cold Spring Harbor reagiu de forma definitiva, retirou todos os títulos dados ao pesquisador e rompeu completamente os laços.
Ao longo da carreira, Watson também fez comentários considerados sexistas e homofóbicos. Sugeriu que mulheres não eram tão ambiciosas quanto os homens na ciência, insinuou que a aparência feminina influenciava o sucesso profissional e chegou a dizer que, se fosse possível identificar genes ligados à homossexualidade, os pais deveriam poder "corrigi-los" nos filhos.
Em 2014, voltou às manchetes ao anunciar que venderia sua medalha do Prêmio Nobel, sendo o primeiro laureado vivo a fazê-lo. Alegou que foi "ostracizado" pela comunidade científica e queria arrecadar fundos para apoiar pesquisas e doações. A medalha foi leiloada, e arrematada por US$ 4,1 milhões pelo bilionário russo Alisher Usmanov, que depois devolveu o prêmio, dizendo que ele "merecia mantê-lo".
Com a morte de Francis Crick e Maurice Wilkins em 2004, James Watson era o último sobrevivente entre os ganhadores do Nobel pela descoberta da estrutura do DNA. Após as polêmicas, viveu afastado da vida pública e isolado das instituições científicas.
Saiba Mais
EU ACHO...
Salmo Raskin, diretor científico da Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica
James Watson pode ser considerado a figura mais importante da genética, com destaque entre tantos outros pesquisadores da área, pela sua descoberta icônica da dupla hélice do DNA, em 1953. Na época, nem os cromossomos eram possíveis de ser analisados e, em estudos, espetaculares ele conseguiu desvendar a estrutura da dupla hélice que deu origem a toda a área de genética molecular. Ele fica para a história como um ídolo máximo da genética médica, e daqui a 100 anos será lembrado como uma das pessoas mais importantes da história da genética e da medicina.

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