
Com auxílio da inteligência artificial (IA) e de um cientista amador, pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida (USF) identificaram o que pode ser o primeiro espécime de Anopheles stephensi — um mosquito invasor e letal transmissor da malária — já detectado em Madagascar, na África. Publicado na revista Insects, o estudo alerta para o risco da alteração geográfica de vetores, fenômeno que, segundo especialistas, deve se tornar cada vez mais comum devido às mudanças climáticas. Os pesquisadores da USF afirmam que a disseminação do inseto pode colocar mais 126 milhões de pessoas em risco de contrair a doença infecciosa, somente no continente africano.
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O Anopheles stephensi representa uma ameaça crescente em toda a África, pois prospera em ambientes urbanos, reproduzindo-se em recipientes artificiais, como pneus e baldes, em vez de poças d'água como os mosquitos Anopheles nativos. Embora a confirmação oficial sobre a presença do vetor em Madagascar exija testes genéticos — que não são mais possíveis porque os espécimes foram imediatamente destruídos —, essa pode ser a primeira evidência do inseto na ilha africana, que registrou recentemente uma duplicação nos casos e mortes por malária.
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A descoberta foi feita por meio do Globe Observer, aplicativo da Agência Aeroespacial Norte-Americana (Nasa), graças a uma foto enviada por moradores de Antananarivo, capital de Madagascar. A imagem, que mostrava uma larva encontrada em um pneu, foi analisada por algoritmos de IA treinados com milhares de imagens de mosquitos. O sistema identificou o inseto como o Anopheles stephensi com mais de 99% de confiança.
Vigilância
Segundo os autores do artigo, Ryan Carney e Sriram Chellappan, o estudo demonstra como o reconhecimento de imagens por IA e a participação pública podem transformar a vigilância global de doenças. "Graças aos aplicativos de ciência amadora, podemos coletar fotos de mosquitos por meio de crowdsourcing e, em seguida, analisar essas imagens usando IA para ampliar a detecção dessas agulhas disseminadoras de doenças no palheiro", disse Carney, em um comunicado.
"A IA pode ajudar na identificação de possíveis reservatórios de vetores, apoiando a tomada de decisão dos gestores públicos sobre onde focar seus recursos de combate a doenças transmitidas por insetos", acredita André Bon, coordenador da Infectologia do Hospital Brasília, da Rede Américas. Ele ressalta que, em um mundo altamente conectado, a migração de um mosquito transmissor pode ser um risco global. "Um vetor com grande adaptação urbana pode acidentalmente ser transportado de uma região para outra adaptando-se ao meio urbano de outros continentes. Portanto, existe risco teórico de disseminação desse vetor."

Ciência e Saúde
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