
Um pó à base de morina — um flavonoide encontrado na folha de goiabeira, casca de maçã, figo, chás e amêndoas — demonstrou propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes contra bactérias ligadas à doença periodontal, que afeta as gengivas. A substância, encapsulada em polímeros para liberação controlada, pode se tornar uma alternativa não cirúrgica e menos agressiva que os antibióticos.
A doença periodontal — que inclui gengivite e periodontite — é uma das condições crônicas mais comuns no mundo, afetando 3,5 bilhões de pessoas, segundo a OMS. Em estágios graves, pode causar sangramento e até perda dentária.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Unesp, em Araraquara, e publicado no Archives of Oral Biology. Desenvolvida no doutorado de Luciana Solera Sales, sob orientação de Fernanda Lourenção Brighenti e apoio da FAPESP, a pesquisa teve colaboração de cientistas da Unesp, Uniara e da Universidade de Birmingham.
“Nesse momento a gente tem um pó fino, obtido por secagem por aspersão, que é o mesmo equipamento utilizado para fazer leite em pó, que pode ser utilizado para compor diversos tipos de produtos de higiene bucal. A ideia é fornecer uma plataforma que aja de maneira coadjuvante e que possa ser útil, por exemplo, para pessoas que têm motricidade reduzida, que não conseguem escovar os dentes adequadamente, como idosos e pacientes com necessidades especiais”, afirma Brighenti.
A morina foi escolhida por ser um composto natural, barato e de fácil acesso. “A morina é um flavonoide, ela pode ser obtida a partir de várias frutas. Mas não adianta só comer, é preciso processar a substância. A ideia é aproveitar esse composto natural, os seus benefícios, as suas vantagens, e transformar tudo isso para que possa ser utilizado para prevenir e tratar a cárie e a doença periodontal”, explica Sales.
Segundo Brighenti, a proposta busca também superar limitações de produtos já existentes, que “não atendem a demanda, porque têm alguns efeitos colaterais relatados pelos pacientes, como a alteração do paladar e o aumento da deposição do tártaro, além de manchas nos dentes com o uso prolongado”.
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Os próximos passos da pesquisa envolvem testes em animais e estudos clínicos. “Observamos, a olho nu, que o biofilme in vitro tratado com a morina em laboratório fica menos corado do que quando é tratado na sua forma livre. Então, é possível haver uma vantagem, que esse sistema ajude a impedir a descoloração do dente. Também precisamos testar, por exemplo, se a morina mantém o equilíbrio da cavidade bucal, porque não queremos eliminar todas as bactérias da boca dos pacientes”, conclui Brighenti.