ESTUDO

Morina em pó apresenta ação promissora contra doenças da boca

A gengivite e periodontite são condições crônicas comuns no mundo, afetando 3,5 bilhões de pessoas, segundo a OMS. Flavonoide natural mostrou ação antimicrobiana e anti-inflamatória em testes da Unesp

A morina pode ser extraída da casca de maçã, figo, chás, amêndoas e folhas de goiabeira  -  (crédito: Pexels)
A morina pode ser extraída da casca de maçã, figo, chás, amêndoas e folhas de goiabeira - (crédito: Pexels)

Um pó à base de morina — um flavonoide encontrado na folha de goiabeira, casca de maçã, figo, chás e amêndoas — demonstrou propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes contra bactérias ligadas à doença periodontal, que afeta as gengivas. A substância, encapsulada em polímeros para liberação controlada, pode se tornar uma alternativa não cirúrgica e menos agressiva que os antibióticos.

A doença periodontal — que inclui gengivite e periodontite — é uma das condições crônicas mais comuns no mundo, afetando 3,5 bilhões de pessoas, segundo a OMS. Em estágios graves, pode causar sangramento e até perda dentária.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Unesp, em Araraquara, e publicado no Archives of Oral Biology. Desenvolvida no doutorado de Luciana Solera Sales, sob orientação de Fernanda Lourenção Brighenti e apoio da FAPESP, a pesquisa teve colaboração de cientistas da Unesp, Uniara e da Universidade de Birmingham.

“Nesse momento a gente tem um pó fino, obtido por secagem por aspersão, que é o mesmo equipamento utilizado para fazer leite em pó, que pode ser utilizado para compor diversos tipos de produtos de higiene bucal. A ideia é fornecer uma plataforma que aja de maneira coadjuvante e que possa ser útil, por exemplo, para pessoas que têm motricidade reduzida, que não conseguem escovar os dentes adequadamente, como idosos e pacientes com necessidades especiais”, afirma Brighenti.

A morina foi escolhida por ser um composto natural, barato e de fácil acesso. “A morina é um flavonoide, ela pode ser obtida a partir de várias frutas. Mas não adianta só comer, é preciso processar a substância. A ideia é aproveitar esse composto natural, os seus benefícios, as suas vantagens, e transformar tudo isso para que possa ser utilizado para prevenir e tratar a cárie e a doença periodontal”, explica Sales.

Segundo Brighenti, a proposta busca também superar limitações de produtos já existentes, que “não atendem a demanda, porque têm alguns efeitos colaterais relatados pelos pacientes, como a alteração do paladar e o aumento da deposição do tártaro, além de manchas nos dentes com o uso prolongado”.

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Os próximos passos da pesquisa envolvem testes em animais e estudos clínicos. “Observamos, a olho nu, que o biofilme in vitro tratado com a morina em laboratório fica menos corado do que quando é tratado na sua forma livre. Então, é possível haver uma vantagem, que esse sistema ajude a impedir a descoloração do dente. Também precisamos testar, por exemplo, se a morina mantém o equilíbrio da cavidade bucal, porque não queremos eliminar todas as bactérias da boca dos pacientes”, conclui Brighenti.

  • Sales no laboratório da Faculdade de Odontologia da Universidade de Birmingham, onde realizou estágio com financiamento da FAPESP
    Sales no laboratório da Faculdade de Odontologia da Universidade de Birmingham, onde realizou estágio com financiamento da FAPESP Divulgação
  • Pó a base de morina apresenta propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes
    Pó a base de morina apresenta propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias e antioxidantes Luciana Solera Sales

 

postado em 17/09/2025 12:41
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