
Um em cada cinco usuários de medicamentos GLP-1, as “canetas emagrecedoras”, perceberam a doçura com mais intensidade e um número semelhante se mostrou mais sensível ao sal, segundo uma pesquisa apresentada ontem na Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, em Viena, Áustria. Segundo o estudo, as mudanças foram associadas à redução do apetite.
“Terapias à base de incretina, como ozempic, wegovy emounjaro, são amplamente utilizadas para o controle do peso, mas seu efeito na percepção do paladar ainda não está claro”, afirmou Othmar Moser, da Universidade de Bayreuth, na Alemanha, que liderou a pesquisa. “Se as mudanças no paladar estiverem associadas a um maior controle do apetite e à perda de peso, isso poderá ajudar os médicos a selecionar melhor as terapias, fornecer aconselhamento dietético mais personalizado e melhorar os resultados do tratamento a longo prazo para os pacientes.”
Moser e colegas da Universidade Médica de Viena entrevistaram centenas de indivíduos com sobrepeso e obesidade que tomavam ozempic, wegovy ou mounjaro para perda de peso, sobre seu paladar e apetite. A duração mediana do tratamento foi semelhante para os três grupos: entre 40 e 47 semanas, com todos os participantes recebendo tratamento por pelo menos três meses consecutivos.
Mudanças
Os participantes, recrutados online, foram questionados se seu paladar (percepção de doce, salgado, azedo e amargo) havia mudado desde o início do tratamento. Eles também tiveram de relatar mudanças no apetite, saciedade e desejos por comida, bem como alterações em fatores de estilo de vida, como tabagismo.
Cerca de um quinto dos participantes afirmou que a comida tinha um sabor mais doce (21,3%) ou mais salgado (22,6%) do que antes. A percepção de amargor e acidez não mudou. Quase 27% dos usuários do wegovy relataram que a comida estava mais salgada do que antes, em comparação com 16,2% no ozempic e 15,2% no grupo mounjaro. Aumentos na doçura foram observados em frequências semelhantes em todos (wegovy 19,4%, ozempic 21,6%, mounjaro 21,7%).
Mais da metade dos participantes (58,4%) relataram sentir menos fome em geral, ou seja, seu apetite havia diminuído. Análises posteriores revelaram ligações entre alterações no paladar, apetite e saciedade: os participantes que relataram que a comida ficou mais doce desde o início da terapia à base de incretina tiveram o dobro da chance de reportar aumento da saciedade.
Aqueles com aumento na percepção de doce também tiveram 67% mais chances de relatar redução no apetite. O mesmo aconteceu em relação aos participantes que começaram a perceber melhor o sal na comida.
“Esses medicamentos atuam não apenas nas áreas do intestino e do cérebro que controlam a fome, mas também nas células das papilas gustativas e nas regiões do cérebro que processam o paladar e a recompensa”, explicou Moser. “Isso significa que eles podem alterar sutilmente a percepção de sabores fortes, como doce ou salgado. Isso, por sua vez, pode afetar o apetite.”