MUNDO ANIMAL

Lula-de-vidro-glacial é documentada pela primeira vez

Iceberg quebrado na Antártida revelou um ecossistema até então inédito de vida marinha profunda

A lula-de-vidro-glacial nadava no Mar de Bellingshausen, próximo à Antártida -  (crédito: Schmidt Ocean Institute)
A lula-de-vidro-glacial nadava no Mar de Bellingshausen, próximo à Antártida - (crédito: Schmidt Ocean Institute)

Em janeiro deste ano, um iceberg na Antártida se desfez e possibilitou que cientistas explorassem o ecossistema marinho antes escondido pelo gelo. Entre as criaturas peculiares registradas, a equipe capturou imagens até então inéditas da Lula-de-vidro-glacial.

A Galiteuthis glacialis é uma espécie de lula abundante nas águas da Antártida, animal de porte médio que apresenta, no máximo, 50cm de comprimento de manto. De aparência delicada, a lula foi encontrada em uma profundidade de 687m no Oceano Antártico. 

Embora a espécie tenha sido descoberta em 1906, tal registro marca a primeira imagem do molusco vivo no habitat natural. Até então, a Lula-de-vidro-glacial tinha sido vista apenas em espécime morta ou capturada no sistema digestivo de baleias. 

O registro do Schmidt Ocean Institute foi possibilitado por uma mudança de curso após a quebra do iceberg A-84, que revelou um ecossistema nunca visto antes da vida marinha profunda. O bloco de gelo do tamanho da cidade de Chicago, nos EUA, se desprendeu da plataforma de gelo George VI.

Em uma expedição em março, a equipe também conseguiu fotografar pela primeira vez a Lula-colossal (Mesonychoteuthis hamiltoni). O animal jovem assemelha-se ao parente da espécie, mas, enquanto a Lula-de-vidro-glacial só atinge 50cm, a Lula-colossal é o maior invertebrado do planeta, podendo ultrapassar 15m de comprimento. Devido à pouca idade da Colossal, ela pode ser confundida com a pequena parente.

Ambas as espécies pertencem à família de lulas de vidro e são conhecidas pelo corpo transparente. Elas compartilham também a característica de tentáculos em forma de ganchos afiados para caçar nas profundezas do oceano. No entanto, a posição dos ganchos difere: na Lula-colossal, eles estão localizados no meio dos oito braços, enquanto na Lula-de-vidro-glacial, aparecem nas pontas de dois tentáculos alongados.

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“A primeira observação de duas lulas diferentes em expedições consecutivas é notável e mostra o quanto ainda vimos pouco dos magníficos habitantes do Oceano Austral”, disse a diretora executiva do Instituto, Jyotika Virmani, ao jornal Washington Post. “Conseguimos capturar imagens em alta resolução suficientes dessas criaturas para que os especialistas globais, que não estavam a bordo do navio, pudessem identificar ambas as espécies.”

Durante a expedição, outras criaturas das profundezas marinhas também foram documentadas pelo instituto, incluindo peixes-do-gelo, aranhas-do-mar gigantes e polvos. “Esses momentos inesquecíveis continuam a nos lembrar que o oceano está repleto de mistérios ainda por serem desvendados”, completou Virmani.

postado em 21/04/2025 18:21
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