
O delegado Ricardo Viana, da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho II), responsável pela investigação da clínica terapêutica Liberte-se, no Lago Oeste, levantou a possibilidade de responsabilizar judicialmente os familiares que levaram parentes para o local. “Nós não descartamos atribuir responsabilidade penal às famílias. Muitos internos foram retirados de casa de forma involuntária, e, ao consentirem que essas pessoas fossem levadas para um estabelecimento sem autorização legal, os familiares podem ter contribuído para o crime”, explicou Viana.
"Como comunidade terapêutica, os dependentes químicos só poderiam ficar lá por no máximo 90 dias, e tinham pessoas lá há mais de um ano. Além de idosos e jovens que entraram ainda como menores de idade. Então são infinitas irregularidades ignoradas por esses familiares", destacou.
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Segundo ele, a Polícia Civil não tem poder de interditar o espaço, mas ofícios já foram encaminhados para órgãos de fiscalização e para a Justiça. A investigação também deve apurar denúncias sobre medicamentos vencidos, uso de anabolizantes, alimentação precária e superlotação — havia entre 80 e 100 pessoas em um espaço com capacidade para 70.
Durante a operação, 27 internos foram conduzidos à delegacia, onde confirmaram as denúncias. Três representantes da unidade — dois homens de 46 e 49 anos e uma mulher de 40 — foram presos em flagrante por cárcere privado. O local é ligado à mesma franquia da instituição que, em agosto, pegou fogo e deixou cinco mortos no Paranoá.
A ação foi motivada por denúncias encaminhadas à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF) e ao Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. De acordo com relatos, havia prática de cárcere privado, agressões físicas, trabalho forçado, restrição de contato com familiares e administração irregular de medicamentos.