
Pela primeira vez, o Distrito Federal conta com um levantamento detalhado da produção cafeeira, resultado de uma parceria entre a Embrapa e a Emater-DF. A pesquisa traça um panorama da cadeia produtiva local, que se destaca pela alta produtividade e qualidade dos grãos, e revela que as mulheres estão à frente da maioria das propriedades cafeeiras no DF. Aos jornalistas Adriana Bernardes e Roberto Fonseca, no programa CB.Agro — parceria da TV Brasília com o Correio Braziliense — desta sexta-feira (1º/8), o pesquisador da Embrapa e representante da Câmara Setorial do Café do DF, Omar Rocha, falou dos principais resultados do estudo, dos desafios da produção, do papel social das famílias agricultoras e das perspectivas para transformar a região em um polo de cafés especiais. A seguir, trechos da entrevista:
O que é esse estudo da Embrapa e da Emater?
A cafeicultura vem tomando novos rumos no DF. A Embrapa firmou um convênio com a Emater-DF para realizar um diagnóstico da atividade cafeeira no Distrito Federal. Afinal, só é possível intervir e oferecer apoio quando se conhece a realidade. A partir desse diagnóstico, obtivemos informações que nos ajudam a definir os caminhos que devemos seguir nas próximas fases.
Qual é a realidade do mercado de café no DF?
O DF produz cerca de 20 mil sacas de café por ano, com aproximadamente 138 produtores e 408 hectares de área cultivada. O que chama atenção é a qualidade dos cafés produzidos aqui, especialmente os cafés especiais, e também a produtividade. Enquanto a média nacional gira em torno de 30 sacas por hectare, no DF, por se tratar de uma cafeicultura irrigada e mais tecnificada, alcançamos uma média de 50 sacas por hectare. Há um grande potencial de crescimento e de tornar a região um polo de produção de cafés especiais.
Como o clima do DF influencia na qualidade do café?
Essa característica climática — um período seco bem definido e outro chuvoso — é típica do Cerrado Central, e as tecnologias desenvolvidas pela Embrapa foram adaptadas para essa condição. O período seco contribui para alguns aspectos positivos do cultivo, embora também favoreça o surgimento de pragas e doenças. Todo o manejo foi desenvolvido pensando nisso.
Esse café é consumido apenas internamente ou é enviado para fora?
A maior parte do café é consumida localmente, mas não todo. Uma parte significativa é exportada.
O estudo apontou o perfil dos produtores?
A maioria são pequenos produtores. Um dado interessante é que, em boa parte dessas propriedades, quem está à frente são mulheres. Isso foi uma surpresa muito positiva. As mulheres estão dominando o setor. Elas se destacam pelo cuidado, pelo amor e pelo comprometimento. Isso se reflete diretamente na qualidade do beneficiamento do café e, consequentemente, na bebida. Esse fator é fundamental se queremos ser um polo de cafés especiais.
O café está associado a outras culturas nas propriedades?
Sim, essa é uma característica do DF. As propriedades costumam cultivar também frutas, que garantem a renda diária da família. Já o café, cultivado em um ou dois hectares, é colhido uma vez ao ano, mas é um montante de recurso que chega para equilibrar as finanças. Estamos falando de cerca de R$ 50 mil por ano para o produtor.
Como estão os custos de produção?
Geralmente, o custo da lavoura representa cerca de 50% da receita, principalmente por se tratar de uma cafeicultura irrigada. No DF, isso tende a ser um pouco mais viável. O principal desafio é a mão de obra, um problema recorrente na produção agrícola. Mas, em áreas pequenas, a própria família realiza a colheita, muitas vezes com a ajuda de mutirões. Esse aspecto colaborativo é essencial e contribui para construir uma imagem diferenciada do café produzido aqui. Não basta ter qualidade; é preciso haver respeito ambiental, social e trabalhista. A cafeicultura do DF respeita muito isso e tem um potencial de crescer muito nesse sentido.
Quais são os maiores desafios da produção?
Não dá para interferir em uma cadeia produtiva sem conhecer seus problemas. O trabalho de campo da Emater-DF foi essencial para isso. A partir dele, os próprios cafeicultores, a indústria e as torrefadoras apontaram os principais gargalos. Identificamos dificuldades no manejo e na condução das lavouras. Embora exista conhecimento técnico, falta planejamento e gestão no dia a dia. As principais demandas foram por melhorias na colheita e na pós-colheita, como otimizar o processo diante da escassez de mão de obra. Além disso, muitos pediram apoio na gestão das propriedades e no fortalecimento da organização social voltada à cafeicultura.
*Estagiária sob a supervisão de Eduardo Pinho
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