Voluntariado

Um amplo desabrochar de solidariedade vivido por jovens no DF

Criada por estudantes da UnB, a ONG Florescer mobiliza centenas de rapazes e moças em ações sociais

A ONG ajuda crianças de creches em regiões carentes com doações de roupas, briquedos, alimentos e afeto -  (crédito: Material cedido ao Correio)
A ONG ajuda crianças de creches em regiões carentes com doações de roupas, briquedos, alimentos e afeto - (crédito: Material cedido ao Correio)

No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o verbo intransitivo florescer significa: viver ou existir, em certa época, deixando um legado. Para dois estudantes da Universidade de Brasília (UnB), o casal de namorados Sofia Moral e Cauã Vilela, ambos com 19 anos — alunos de jornalismo e administração de empresas, respectivamente —, o termo serviu para batizar uma ONG que fundaram em 2023. Os dois, moradores do Park Sul e matriculados em uma instituição que exige dedicação aos estudos, têm tempo e disposição para pensar nos menos favorecidos. E o projeto de ambos atraiu outros universitários que compartilham do mesmo objetivo: trabalhar por um mundo melhor.

A Florescer atua em duas vertentes. Numa se dedicam a crianças e adultos, com trabalhos voluntários, doações de cestas básicas, brinquedos e coleta de recursos financeiros. Na outra, o foco são os animais abandonados.

Sofia e Vilela, junto aos demais 452 integrantes de sua organização, têm atendido a Casa da Paternidade, no Setor Complementar de Indústria e Abastecimento; o projeto W6, no Morro da Cruz; o Centro Comunitário de Ceilândia; o Abrigo Fauna e Flora, em Ponte Alta Norte; a Associação Brasileira de Pessoas com Câncer (Abrapec), em Taguatinga; e a Creche Guerreiros, na Estrutural. E o grupo está aberto a ampliar suas ações, desde que outras pessoas de boa vontade como eles se unam ao esforço.

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A iniciativa de criar a ONG surgiu após Sofia participar de um evento social organizado quando cursava o ensino médio. Ela disse ter sentir a necessidade de que deveria realizar algo no Distrito Federal. "A gente ficou sete dias na favela Vila Progresso, em Itaquera (São Paulo). Todo dia, a gente saía e participava de uma ação com crianças. Eu voltei inconformada com as situações que presenciei, e olha que eu não vivi nem 1% das dificuldades que elas enfrentam", relata.

A partir desse choque, decidiu buscar creches no DF para ajudá-las de algum forma. Ela conta que a Casa da Paternidade necessitava pintar sua nova sede. Sofia não perdeu tempo, contatou amigos e, com Vilela, encararam a empreitada.

A ONG conta com 450 membros no grupo de mensagens e mais de 780 seguidores nas redes sociais.
Nos perfis das redes sociais, o grupo conta com 780 seguidores que ajudam de forma indireta. Presencialmente, são mais de 450 integrantes (foto: Luis Nova/CB)

"A gente só pensou que faria uma primeira ação. A segunda veio naturalmente. E, em seguida, uma terceira, quarta, e assim por diante. Virou um efeito dominó, mas só se consolidou, mesmo, quando criamos um perfil nas redes sociais, que atraiu tanto quem precisava de ajuda quanto quem queria ajudar. Atualmente, temos (entre os voluntários) um pessoal que cuida de cada área, para dividir responsabilidades e não pesar para ninguém", explica o estudante de administração .

A ONG tem mais de 780 seguidores nas redes sociais, gente que, de alguma maneira, indiretamente, acabam participando da Florescer com algum tipo de doação. Não raro, uma dessas pessoas acaba passando, voluntariamente, para a linha de frente, e colocando a mão na massa.

Ganho mútuo

Ajudar a quem precisa faz bem a quem oferece apoio também. Quem garante é Beatriz Silveira, 19. Ela, moradora do Guará II e estudante de nutrição da UnB, conta que foi convidada por uma amiga para participar da Florescer. "Desde que eu conheci a ONG, ela transformou a minha vida. Eu encontrei uma versão da minha pessoa que eu jamais imaginei que existia, foi a mais pura e genuína da minha alma. Toda vez que são realizados os encontros (com os grupos assistidos) eu saio transformada", admite.

"Quanto mais cedo a gente se inserir nesse contexto (das ações solidárias), mais se sente motivada para continuar. Isso aqui é para vida e a gente vai transformando mais pessoas ao longo da nossa jornada", avalia.

Já a estudante de pedagogia na UnB, Gabriela Regal, 19, da Asa Norte, diz que atuar como voluntária, auxiliando outras pessoas a enfrentar desafios sociais que desconhecia, contribuiu para melhorar suas percepções de vida. "Meu senso crítico mudou por eu passar a também a conviver com pessoas em uma realidade (socioeconômica) diferente da minha. E o lado afetivo também, porque tenho criado laços com as crianças necessitadas de projetos sociais que atendemos. São meninos e meninas muito carentes. Um olhar ou um abraço faz muita diferença na vida deles", explica.

"A gente ir e montar um dia inteiro de brincadeiras com aquelas crianças faz uma enorme diferença na vida delas. E sei que elas não vão esquecer daqueles momentos, muito menos eu", acrescenta.

Gabriela destaca que, mesmo que os integrantes da Florescer sejam jovens, o trabalho deles é encarado com seriedade e respeito pelas instituições que auxiliam.

Well Fabiano, responsável pelo abrigo de animais Fauna e Flora, elogia a atuação deles. "Recebê-los é muito importante porque, além de terem muita energia — para dar banho nos animais, por exemplo—, eles estão dispostos a assimilar conhecimentos veterinários essenciais. E, com certeza, eles os repassam a outras pessoas", diz. Ele fez questão de destacar, além disso, o esforço da ONG em contribuir com rações para cães e gatos, e a atenção que todos os rapazes e moças dão aos mascotes.

O reconhecimento de Fabiano procede. Na maioria das vezes, os membros da Florescer arcam com a logística e aquisição de itens a serem doados a quem ajudam utilizando o dinheiro próprio. Por enquanto, as arrecadações financeiras da entidade com terceiros são insuficientes para que o caixa garanta alguma autonomia à ONG.

O casal, Cauã Vilela e Sofia Moral, não imaginava que a organização tomaria tamanha proporções.
Vilela e Sofia não imaginavam que fariam tantas atividades nem que atrairiam tantos voluntários (foto: Luis Nova/CB)

Mesmo assim, Sofia e Vilela asseguram que não falta disposição nem engajamento ao grupo. Eles se dizem abertos a parcerias e não descartam oferecer palestras, capacitações ou outros assuntos relacionados com ações de voluntariado a quem quiser conhecer mais da área. É um modo que encontraram para buscar recursos financeiros que viabilizem realizar as suas atividades.

Nas redes sociais, o perfil é @org.florescer. Por ele, chega-se a um link que encaminha os interessados a um canal de mensagens do grupo — onde podem ser feitas sugestões e comentários — e também a uma chave Pix para doações de quem quiser ajudar o projeto.

  • Nos perfis das redes sociais, o grupo conta com 780 seguidores que ajudam de forma indireta. Presencialmente, são mais de 450 integrantes
    Nos perfis das redes sociais, o grupo conta com 780 seguidores que ajudam de forma indireta. Presencialmente, são mais de 450 integrantes Foto: Luis Nova/CB
  • Vilela e Sofia não imaginavam que fariam tantas atividades nem que atrairiam tantos voluntários
    Vilela e Sofia não imaginavam que fariam tantas atividades nem que atrairiam tantos voluntários Foto: Luis Nova/CB
postado em 27/04/2025 06:00
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