Solidariedade

Entidade reúne pessoas que desenvolvem projetos sociais no SCS

Desde 2018, o instituto No Setor realiza, no Setor Comercial Sul, projetos voltados para os mais necessitados

 Grupo começou como um coletivo idealista. Sete anos depois, desafios e ações o converteram em instituição atuante -  (crédito:  Bruna Gaston/CB/D.A Press)
Grupo começou como um coletivo idealista. Sete anos depois, desafios e ações o converteram em instituição atuante - (crédito: Bruna Gaston/CB/D.A Press)

Brasília se conecta por pessoas que se unem para ajudar o próximo. Um dos exemplos dessa integração é o Instituto No Setor. Criado em 2018 — inicialmente identificando-se como coletivo cultural —, teve como projeto inaugural a realização do Setor Carnavalesco Sul — primeiro carnaval com atividades para a comunidade que mora ou frequenta o Setor Comercial Sul (SCS).

Com o passar do tempo, uma série de situações — necessidade de geração faturamento; criação de iniciativas sociais; entregas de doações; convivência com pessoas em situação de rua; entre outras — fizeram os integrantes do então coletivo compreenderem a necessidade de assumir outra forma jurídica. E, em 2 de setembro de 2019, consolidou-se como instituto.

Rafael Moraes, 35 anos, é o coordenador geral do No Setor e explica como se apaixonou pela iniciativa. "Recebi um jornal editado pelo instituto. Comecei a ler e pensei: 'gente, que coletivo massa, que lindo!'. E essa paixão ficou ali no coração", recorda.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

Ele diz que, depois disso, trabalhou com alguns projetos na Universidade de Brasília onde encontrou uma pessoa que tinha contatos no instituto. "Ela falou: 'tenho que te apresentar para um pessoal que é a cara do que você está fazendo (na UnB)'. Foi quando, em 2019, entrei como voluntário. E, em 2023, assumi a coordenação geral", relata.

 Para Moraes, o No Setor estimula que pessoas de Brasília interessadas em atuar em prol de seus semelhantes se conectem. "Tem um geógrafo que fala que o centro da cidade é onde todas as linhas da cidade se encontram. E o instituto, por estar nesse centro, consegue passar um pouco do que é se sentir parte desta cidade que foi planejada, independentemente se a pessoa mora no Plano Piloto ou não", avalia.

O coordenador conta que, em seu caso, essa paixão e conexão com Brasília surgiu devido ao seu companheiro, que é natural da capital federal. "No início, quando me mudei para cá, por ter vindo de fora, não tinha essas referências de espaço, música ou cultura. À medida que fui sendo apresentado (pelo companheiro) e conhecendo a Brasília planejada, a igrejinha, a pizza da Dom Bosco, a Torre de TV e a Ermida Dom Bosco, fui me apaixonando cada dia mais", comenta.

Integração

Israel Magalhães, 29, é voluntário do No Setor, que conheceu o local graças a uma rede de amizades. "Foi na época da pandemia. Disse para um amigo meu, que conhecia o pessoal do instituto, que eu tinha vontade de dar aula de capoeira para a população de rua. Ele me apresentou (à entidade) e foi assim que entrei como voluntário", afirma. "Hoje em dia, estou na parte de acolhimento daqueles que querem conhecer o projeto pela primeira vez", comenta.

Segundo Magalhães, o trabalho social fez com que ele enxergasse melhor a forma de ocupar o espaço urbano. "Se (a área) é público, tem que ser bem cuidada por nós, temos que dar destinação e integrar as pessoas (que vivem nela e a usam). Querendo ou não, esses espaços públicos têm pessoas que utilizam ou até mesmo moram neles e, por isso, têm que ser respeitadas e integradas", considera.

A integrante da diretoria de projetos Malu Neves, 27, está na equipe do No Setor há sete anos. "Foi uma coisa muito nova. Vim das danças urbanas e tinha muito essa pegada da rua, mas, antes de conhecer o instituto, nunca tive esse contato real com a vulnerabilidade", aponta. "Fazer parte da equipe me transformou muito e me mostrou que a gente não consegue ser o salvador de alguém, mas podemos ser a ponte. Porque para a pessoa ser ajudada, ela também precisa fazer esforço para isso. Esse foi o meu grande aprendizado", ressalta.

Um dos casos de sucesso do No Setor é Paulo Henrique Silva, 32. O pernambucano chegou a Brasília há 11 anos. "Como quase todo mundo, vim atrás de uma vida melhor, mas acabei caindo em depressão e indo morar na rua", lembra. "Fui acolhido pelo instituto e o conheço desde o início. Eu vejo essa galera como o principal apoio para eu ter saído da rua, onde fiquei durante três anos", garante.

Silva acredita que a entidade é efetivamente inclusivo. "O instituto não olha se a pessoa é rica ou pobre, preta ou branca e nem a opção sexual. O instituto acolhe todo tipo de pessoa. Isso é uma coisa que eu vi muito em Brasília, é uma cidade muito acolhedora", opina.

Alimento que fortalece a dignidade

"Olha o Barba chegando!". Esse grito já se tornou tradicional. Quando a kombi de Rogério Barba, 54, presidente do Instituto Barba na Rua chega à Quadra 4 do Setor Comercial Sul, muitos se aproximam, pois sabem que, naquele momento, vão saborear uma boa refeição. É com esse bom coração que o "Barba", há 10 anos, tenta dar um pouco mais de dignidade a quem não tem para quem recorrer.

Ele conta que sua história com Brasília começou 15 anos atrás. "Nasci em 1971, em São Paulo, onde fui abandonado na rua. Passei por Minas Gerais, Goiânia e, em 2010, vim para Brasília, porque muita gente que eu encontrava, enquanto rodava pelo Brasil, falava que se eu viesse para cá, me daria bem", comenta.

Rogério Barba lembra que tinha problemas com o crack e com álcool. "Fiquei na rua, em Brasília, de 2010 até 2013 e por um projeto igual ao que eu faço, consegui me tratar. A partir daí, entendi que eu precisava fazer algo para essas pessoas também. Foi quando fundei o Instituto Barba na Rua", detalha.

 11/04/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Caderno do aniversário de Brasilia. Inclusão social projeto Barba na Rua. Distribuição de marmitas para a população carente.
Rogério Barba e sua equipe gostam de entregar as marmitas pessoalmente (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Aproximação

Segundo o ex-morador de rua, entre as várias vertentes do seu projeto, a ajuda com alimentação é a que possibilita uma aproximação maior. "Não chamamos as pessoas até a sede do instituto. Levamos até elas para criar um vínculo com a população de rua. Para mim, não é só dar a alimentação, eu escuto as pessoas", explica. "Quando você a alimenta e a pessoa está com a barriga cheia, ela consegue dialogar e a gente entende de que maneira podemos diminuir o sofrimento daquela pessoa que está na rua", avalia.

Segundo ele, o Instituto Barba na Rua tem tudo a ver com a cidade aniversariante. "Meu apelido foi dado aqui. Além disso, escolhi Brasília para morar e ter o meu instituto. Tive oferta para estar em outros estados, mas escolhi a capital do país porque é uma cidade de oportunidades. Falo para todo mundo que a pessoa que vem para Brasília, se ela quiser sair da rua, consegue. Não é fácil, mas é possível", garante.

postado em 26/04/2025 06:00
x