
Embora prevenível, o herpes-zóster — também conhecido como “cobreiro” — continua a afetar dezenas de pessoas por ano no Distrito Federal. Dados de morbidade hospitalar do Ministério da Saúde mostram que, em 2024, já foram registrados 58 casos de internação relacionados à doença e à varicela (causados pelo mesmo vírus, o Varicela-Zóster), número que se mantém alto e próximo ao observado em 2023 (59). Nos primeiros dois meses deste ano, 13 pessoas foram hospitalizadas, superando o mesmo período de 2024, que teve 11 registros.
O panorama exige alerta, pois, após a infecção inicial, o vírus pode permanecer adormecido no organismo por décadas e se manifestar novamente em forma de zóster, especialmente em idosos ou pessoas com o sistema imunológico enfraquecido. A doença pode causar dor intensa, bolhas na pele e levar a complicações severas.
Ainda que o vírus possa infectar qualquer um, alguns grupos são mais suscetíveis. De acordo com o infectologista Julival Ribeiro, a queda da imunidade torna pessoas acima de 50 anos mais vulneráveis ao herpes-zóster. Ele enfatiza a urgência de buscar ajuda médica ao primeiro sinal, reiterando: “É muito importante que, caso suspeite da doença, procure imediatamente o serviço de saúde para começar o uso do antiviral, o quanto antes”, explica.
Indivíduos com sistema imunológico fragilizado, como idosos e pessoas com doenças crônicas (hipertensão, diabetes, câncer, HIV/AIDS ou transplantados), também constam como os principais grupos de risco do herpes-zóster.
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O mecânico Ricardo dos Santos, de 50 anos, que passou por uma cirurgia renal, sofreu muito com a doença: “A sensação é de que tem algo andando por dentro da pele, além da dor, essa é a pior parte”, relembra. Apesar de não ser considerado idoso, seu estado pós-operatório o colocou no grupo de risco, manifestando a doença com ardência, formigamento e inchaço na cabeça.
Sintomas
- Dores nos nervos;
- Formigamento, agulhadas, adormecimento, sensação de pressão;
- Ardor e coceira locais;
- Febre;
- Dor de cabeça;
- Mal-estar.
Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde/MS
Prevenção
Hoje, o Brasil dispõe de duas vacinas contra o herpes-zóster: a recombinante Shingrix, introduzida em junho de 2022 e com proteção duradoura de aproximadamente 10 anos, e a Zostavax, uma formulação mais antiga que oferece proteção por cerca de três anos. Ambas, no entanto, estão acessíveis apenas na rede privada de saúde, o que impacta diretamente a adesão à imunização contra essa enfermidade debilitante.
A professora aposentada Jeane Rodrigues, 57, que enfrentou o herpes-zóster em 2024, relata a dificuldade em se imunizar devido ao custo elevado, que pode chegar a R$ 1 mil. “Eu superincentivo a quem tiver o poder aquisitivo que tome a vacina, porque é uma doença muito intensa”, afirma. Jeane também expressa uma necessidade crucial: “Seria fundamental e imprescindível que tivesse a vacina no SUS”, avalia.
A possibilidade de a vacina contra o herpes-zóster ser oferecida gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) ganhou um novo capítulo e resolver casos como o de Jeane. O Ministério da Saúde confirmou o envio de uma solicitação de avaliação à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Em comunicado, o órgão federal declarou que a decisão sobre a incorporação da dose à rede pública depende agora do parecer técnico da comissão.
Outro fator que também dificulta a adesão à vacina é a descontinuidade da imunização por parte dos mais velhos que, uma vez vacinados, não voltam para a aplicação de novas doses, como observa o geriatra Thiago Póvoa. “Geralmente, eles são vacinados quando mais jovens e, depois, esquecem de reforçar a dose”, comenta. Essa falta de continuidade representa um ponto crítico, considerando que a idade avançada é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença e suas complicações.
O médico defende a intensificação de campanhas de conscientização sobre a importância da vacina, direcionadas especialmente ao público de mais idade. “Nos últimos anos, por conta de notícias falsas e campanhas de desinformação nas redes sociais, vemos uma queda na abrangência das campanhas de vacinação, especialmente nos idosos, que são tão vulneráveis a notícias falsas. Por isso, esforços robustos de informação são cruciais para garantir que a população idosa esteja protegida”, alerta.
Resumo das orientações
- Vacinação;
- Lavar as mãos com água e sabonete após tocar nas lesões;
- Cortar as unhas;
- Isolamento: crianças com catapora só devem retornar à escola quando as bolhas estiverem secas, já com crostas;
- Higienização de objetos que possam estar contaminados.
Fonte: Biblioteca Virtual em Saúde/MS
Consequências
Além das dolorosas erupções na pele, a Herpes-Zóster pode desencadear uma série de complicações graves que demandam atenção médica. Entre elas, destaca-se a ataxia cerebelar aguda, distúrbio neurológico causado por lesões no cerebelo capazes de comprometer o equilíbrio e diversas funções motoras essenciais.
A doença também eleva o risco de trombocitopenia, condição que afeta a coagulação sanguínea, e abre caminho para infecções bacterianas secundárias na pele, como impetigo e celulite, que, em quadros mais severos, podem evoluir para sepse e atingir órgãos vitais, como articulações, pulmões, coração e cérebro, causando artrite, pneumonia, endocardite, encefalite, meningite ou glomerulonefrite.
Tratamento
De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento do herpes-zóster varia conforme o perfil do paciente e a gravidade dos sintomas. Em casos leves, principalmente em pessoas sem risco de complicações, são indicados antitérmicos e analgésicos — com exceção do ácido acetilsalicílico — além de anti-histamínicos para aliviar o prurido.
Cuidados simples, como higiene adequada da pele com água e sabonete e o corte correto das unhas, também são recomendados para evitar infecções secundárias.
Se houver sinais de infecção bacteriana associada, como vermelhidão, pus ou febre persistente, antibióticos podem ser prescritos. Nesses casos, o tratamento tem como alvo principal bactérias como os estreptococos do grupo A e os estafilococos, agentes comuns em infecções de pele.
Nos pacientes que apresentam maior risco de agravamento, como imunossuprimidos, gestantes ou idosos, o tratamento específico com antivirais é fundamental. O aciclovir é o principal medicamento utilizado.