
Um suspeito de envolvimento na morte do ex-delegado-geral da Polícia de São Paulo, Rui Ferraz foi detido na manhã desta quarta-feira (17/9), menos de 48horas após o crime. Ele chegou à delegacia com um capuz na cabeça e presta depoimento às autoridades.
Na terça-feira, a polícia identificou dois suspeitos pelo crime, mas não revelou os nomes para preservar a investigação. No entanto, o secretário de Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite afirmou que um dos suspeitos tem vasta ficha criminal por crimes como roubo e ameaça.
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Ex-delegado-geral de São Paulo vítima de emboscada
O ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz Fontes, de 63 anos, foi assassinado na noite de segunda-feira (16/9), em Praia Grande (SP). Ele foi vítima de uma emboscada que, inicialmente, está sendo atribuída ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Cerca de 70 tiros foram disparados durante a emboscada, depois de perseguido pelo veículo que levava três atiradores e um motorista. A execução foi registrada por câmeras de monitoramento e por pessoas que passavam no momento em que ocorreu o assassinato, por volta das 18h.
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Ferraz tinha saído da prefeitura, onde fica a secretaria que ocupava, e conduzia um Fiat Argo. A partir daí, os criminosos, que estavam em uma Toyota SW4, começaram a persegui-lo e a atirar.
O delegado tentou fugir e seguiu em alta velocidade até a Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, no bairro Nova Mirim. Ao entrar na via, foi colhido por um ônibus, que fez com que o carro capotasse e fosse atingido por um segundo ônibus.
Nesse momento, a SUV em que estavam os matadores conteve o trânsito — um homem de fuzil desceu pela porta traseira esquerda e ordenou que os motoristas parassem. Outros dois saíram do lado direito da Toyota e foram até o Fiat do delegado para fazer os disparos. Terminado o serviço, voltaram para o carro em que estavam e fugiram. Uma mulher e o sobrinho também foram atingidos no atentado — ela foi atendida e dispensada, mas o homem continua internado.
Os criminosos utilizaram um segundo veículo, um Jeep Renegade — que por não ter sido queimado, como o que foi visto na perseguição ao delegado, permitiu que a perícia chegasse aos dois suspeitos.
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O assassinato mobilizou autoridades estaduais e federais. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou o crime como "brutal" e ofereceu o apoio das forças da União ao governo de São Paulo para a investigação, incluindo recursos de polícia científica, como bancos de dados de balística e DNA. Ele conversou, por telefone, com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas o secretário da Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite, recusou a ajuda da Polícia Federal.
"Todos que participaram desse atentado terrorista — porque é isso que aconteceu contra o doutor Ruy — serão punidos severamente por isso", garantiu Derrite.
Tarcísio, por sua vez, ordenou mobilização total das forças policiais. "É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado", disse.
Já identificamos um 2º indivíduo que participou do assassinato do Dr. Ruy Ferraz Fontes, após um trabalho de perícia no local. Vamos solicitar a prisão temporária dos dois já identificados. Seguimos com todas as polícias empenhadas nesse caso, para que os culpados sejam punidos.
— Guilherme Derrite (@DerriteSP) September 16, 2025
O delegado foi um dos primeiros policiais a investigarem a facção e é apontado como um dos principais responsáveis pela prisão de Marcola. Em 2023, o ex-delegado foi vítima de um assalto à mão armada e revelou que temia pela própria segurança, além da integridade física dos familiares.
Crime organizado
A força-tarefa criada para investigar o assassinato apura a ligação de um líder do PCC, que deixou um presídio federal há um mês, com o crime. Mas não está afastada a hipótese de que o homicídio possa ter elo com uma licitação, que teria prejudicado uma entidade ligada aos criminosos.
O veículo em que Ferraz foi morto não era blindado — ele tinha um, mas o usava apenas quando tinha de ir à capital. Por causa disso, o secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei para alterar a legislação sobre organizações criminosas, visando proteger testemunhas e agentes públicos, inclusive na aposentadoria.
Sarrubbo, que conhecia Ruy e trabalhou com ele em algumas ocasiões, enfatizou a importância do trabalho integrado e de alterações na legislação de crime organizado, destacando que o Brasil e a América Latina enfrentam um momento delicado com a atuação de facções. "Devemos apresentar (o projeto de lei) ao ministro Lewandowski, que deve apresentar, em algumas semanas, ao presidente da República. Acreditamos que vá (ser remetido) ao Congresso Nacional", disse o Secretário.
O pesquisador Leonardo de Carvalho, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, descreveu a ação contra Ferraz como coordenada e planejada, demonstrando conhecimento tático operacional e domínio no manuseio de armamento de grosso calibre. "Essa foi uma ação planejada e executada por pessoas com conhecimento e domínio. Dois criminosos saem para alvejar o dr. Ruy. Um criminoso fica em posição de cobertura e o motorista do veículo, em momento algum, sai do volante", explicou o especialista.