
Com o assassinato de Charlie Kirk, o Ocidente passou a buscar as fontes do ódio que move os cérebros para destruir, condenar, matar, sem outras razões claras a não ser o próprio ódio. No processo que levou Tyler Robinson a executar Kirk, o assassino, antes de decidir matar, passou a atribuir a seu alvo o pecado de ser uma pessoa cheia de ódio. Com isso, encontrou motivo para justificar a eliminação de Kirk: Tyler estaria apenas extinguindo um disseminador de ódio.
Tyler imputou a Kirk o ódio que continha em si próprio. Atribui-se a Lênin o conselho de "Acuse-os daquilo que você é". Há variantes para essa inversão que justifica o ódio. Herbert Marcuse pregou a guerra santa do oprimido contra o opressor. Ensinou a apontar alguém como opressor para justificar a violência do oprimido. Antonio Gramsci substituiu a revolução armada pela cultural — e esse conjunto de idéias foi trabalhado por décadas nas escolas, nas universidades e no meio artístico e intelectual. E hoje se traduz na violência do ódio justificado por pensadores que abduzem gerações, como as sereias que tentaram Ulisses.
Antes do tiro mortal do 10 de setembro, houve o ataque de ódio suicida do 11 de setembro de 2001, que matou quase 3 mil pessoas. No 6 de setembro de 2018, a faca de Adélio Bispo, adepto do PSol, entrou na barriga de Jair Bolsonaro para matá-lo — e até hoje o fere. Em 13 de julho do ano passado, o alvo também era uma cabeça, e atingiu a orelha de Trump, matando quem estava atrás dele. Em 7 de outubro de 2023, o Hamas invadiu um kibutz no sul de Israel e chacinou com ódio quase 1200 idosos, mulheres, bebês e ainda levou 250 reféns. Seria como se um bando armado entrasse à noite no Brasil, matasse 140 mil brasileiros e sequestrasse 30 mil como reféns. Os que desejam calar a voz digital do povo — origem do poder — atribuem às redes sociais o "discurso de ódio". Mas a origem é outra — e identificável.
Esses crimes foram movidos por ódio aos valores ocidentais: a cultura judaico-cristã, democracia gerada pelos gregos, o direito legado pelos romanos. Liberdade, democracia, família. Liberalismo e conservadorismo. Contra essa cultura "burguesa", discursou Marilena Chauí: "Eu odeio a classe média" — para a plateia dos 10 anos do governo do PT, que aplaudia. No Congresso da Sindical Popular, o sociólogo Mauro Iasi, do PCB, citando Bertolt Brecht, recomendou: "Nós estamos dispostos a oferecer um bom paredão, colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala e depois de uma boa pá, uma boa cova. Com a direita e o conservadorismo, nenhum diálogo. Luta!". O presidente Luiz Lula da Silva, defendendo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no bate-boca com os Mantovani, no Aeroporto de Roma: "Um cidadão desses é um animal selvagem, não é um ser humano. Essa gente que renasceu do neofascismo tem que ser extirpada. Nós vamos ser muito duros com eles, para aprenderem a ser civilizados", expressou o Lulinha paz e amor.
Junta-se a recomendação atribuída a Lênin, com a percepção social de Gramsci e o sofisma de Marcuse. Fabricaram a "extrema-direita do ódio", que se contrapõe à "esquerda do amor". E, com amor, se destrói, assassina e se justifica condenar sem provas o odiado. Para se impor a ditadura do amor, com a censura do amor, a prisão do amor, a lei do amor. É um 1984 atualizado 40 anos à frente.
Por isso, tantos amorosos festejam a orfandade de duas filhinhas de Kirk. É a parábola da mentira vestida de verdade para convencer o povo a não pensar, só aceitar a nova verdade. A ministra Cármen Lúcia nos lembrou Victor Hugo: "O mal feito para o bem continua sendo mal." O ódio é o mal. Impossível que tenha por fim o bem. Mas ódio para o bem é praticado por cérebros anestesiados, sequestrados.
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