
Um homem homossexual e uma mulher transgênero foram resgatados de condições análogas à escravidão em Planura, no Triângulo Mineiro. Além das jornadas exaustivas e da violência física e psicológica, uma das vítimas foi tatuada com as iniciais dos patrões. O esquema, que mirava pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade, foi revelado pela Auditoria-Fiscal do Trabalho de Minas Gerais. As informações são do jornal Estado de Minas.
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O que começou como uma falsa promessa de acolhimento nas redes sociais virou um pesadelo. As vítimas, ambos de nacionalidade uruguaia, foram atraídas por meio de anúncios no Facebook e Instagram. Do outro lado da tela, os três empregadores se apresentavam como “salvadores” dispostos a oferecer casa, comida e até a chance de terminar os estudos.
Durante quase uma década, o homem resgatado trabalhou como empregado doméstico sem registro ou salário. Nesse período, acumulou cicatrizes de agressões físicas, abusos sexuais e psicológicos, e viveu sob a ameaça constante de ter imagens íntimas, feitas sem seu consentimento, expostas como forma de controle. Em um gesto de posse, ele também teve o corpo tatuado com as iniciais de dois patrões.
A mulher transgênero também enfrentou o mesmo ambiente de exploração. Também inserida em trabalho doméstico informal, ela foi obrigada a atuar em condições degradantes, sem receber salário mínimo garantido e exposta a constantes episódios de violência. Segundo a Auditoria-Fiscal do Trabalho, o clima de terror instalado na casa a levou a sofrer um acidente vascular cerebral enquanto realizava suas tarefas.
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A operação que libertou as vítimas foi realizada entre os dias 8 e 15 de abril, após denúncia recebida pelo Disque 100. A operação reuniu auditores fiscais do trabalho, Polícia Federal (PF), Ministério Público do Trabalho e equipes da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC). A ação conta ainda com o apoio da delegacia sindical em Minas Gerais do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (DS-MG/SINAIT).
Três homens — um contador de 57 anos, um administrador de 40 e um professor de 24 — foram presos em flagrante, segundo informações da PF. Segundo as investigações, eles formavam um trisal e usavam a confiança construída em comunidades LGBTQIAPN+ para atrair novas vítimas.
As vítimas, que tiveram suas identidades preservadas, estão agora sob cuidados especializados da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia e do UNIPAC, recebendo acolhimento psicológico, assistência jurídica e apoio para reconstruir suas vidas longe da violência.